Título: Queda do PIB eleva relação com a dívida pública
Autor: Célia Froufe, Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

Forte retração da atividade levou analistas a preverem um resultado pior para a taxa

A forte queda da atividade econômica no terceiro trimestre em relação ao segundo, de 1,2%, fez com que analistas do mercado financeiro elevassem as projeções para a relação da dívida líquida do setor público com o Produto Interno Bruto (PIB) de 2005. Mesmo assim, a taxa não deve subir significativamente, apesar da surpresa com o PIB, porque o impacto não tem a mesma magnitude na dívida/PIB em relação à atividade. Os entrevistados lembraram, no entanto, que apenas 0,01 ponto porcentual de elevação representa cifras robustas. Esse movimento, iniciado com a divulgação da queda do PIB na quarta-feira, tende a ganhar novas adesões a partir do dia 15, quando o IBGE divulgará os valores correntes do PIB, usados parâmetro para a revisão de algumas instituições.

Entre as que se adiantaram está o Unibanco. O economista Mauricio Oreng informou que sua estimativa para a relação ao final do ano passou de 50% para 50,5% porque a previsão para o crescimento do PIB de 2005 diminuiu de 3,3% para 2,2%. "Não é nada dramático".

De acordo com Oreng, o importante é que a sua expectativa, apesar de ter sido elevada, ainda é inferior ao númjero apurado ao final de 2004, de 51,7%.

"Ainda que seja apenas praticamente um ponto porcentual de diferença, qualitativamente é bom. Principalmente em um ano em que os juros foram altos e o PIB deve ser modesto".

Na Tendências Consultoria Integrada, a previsão de acréscimo da relação dívida/PIB foi menor, de 0,2 ponto porcentual. "Pensei que a diferença seria maior", disse o economista Guilherme Loureiro, que reviu a projeção de crescimento do PIB de 2005, de 2,8% para 2,6%.

O economista disse que talvez essa mudança pequena na expectativa para o PIB de 2005 tenha contribuído com um porcentual menor de alteração. De qualquer forma, a projeção para a dívida/PIB está acima da registrada no ano passado. A equipe da Tendências alterou o porcentual de 51,8% para 52%.

Na comparação do déficit nominal com o PIB, a Tendências e o Unibanco esperam um porcentual superior para este ano em relação ao registrado em 2004, de 2,67%. Enquanto a consultoria prevê uma taxa de 3,56%, o banco espera 3,50%.

Basicamente, de acordo com os analistas, essas mudanças ocorreram devido ao custo do serviço da dívida mais alto este ano em relação a 2004, por causa da taxa básica de juros mais elevada. De janeiro até outubro, o Banco Central estimava uma variação de 2,41% e, em 12 meses, de 2,99%.

Loureiro salientou que a sazonalidade dos últimos meses do ano interferem na sua projeção, que, no entanto, estaria compatível com sua estimativa de um superávit primário de 4,80%.