Título: 'Aprendi que tenho de ser mais humilde e ter mais paciência'
Autor: Ana Paula Scinoca, Carlso Marchi, Mariângela Hamu
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Nacional, p. A12,13

Na segunda parte de sua entrevista, Marta Suplicy fala dos erros de sua campanha à reeleição e avalia a administração Serra

Marta Suplicy não acalenta apenas o sonho de, indicada pelo PT, ser eleita a primeira governadora da história de São Paulo; ela já monta cenários com essa possibilidade. Num deles, imagina que, eleita, conseguirá trazer para seu secretariado os dois ministros que hoje são as estrelas do governo Lula. Eis o restante da entrevista: Quando Dilma reclamou que o ministro Antonio Palocci não soltava dinheiro, passou pela cabeça da senhora que talvez fosse uma manifestação de sensibilidade feminina?

Eu adoro a Dilma e o Palocci é um irmão. Então, aí é complicado. A Dilma tem algumas características, que são muito interessantes, de ver as coisas com clareza e organizadamente. E a função dela é complementar à do Palocci. Todo governo tem de ter os dois papéis. E o dela é cobrar a execução de um orçamento, de um cronograma de investimento.

Se a senhora fosse governadora de São Paulo, preferiria trazer Dilma ou Palocci?

Você quer saber qual é o meu sonho? Que viessem os dois. A Dilma faz exatamente o que deve ser feito, que é a cobrança. O presidente tem os dois melhores perfis para o cargo. Quem está no papel da Dilma, tem de ser enérgica, ter clareza e saber cobrar sem temor. Ela tem de fazer pressão e, nisso, foi muito corajosa. E o ministro tem de controlar a estabilidade econômica e a inflação. É sempre um dilema. Ela é um modelo muito interessante para as mulheres.

Em 2004, a senhora tinha 48% de aprovação e não foi reeleita. A senhora acha que a sua separação e seu novo casamento contribuíram para a sua derrota?

Talvez um pouco. Mas eu não sei a dimensão. Mas não foi esse o motivo principal. Foram erros meus, entre os quais não está o fato de eu ter me separado.

Quais erros?

Isso (a separação) deve ter tido um peso, que eu não sei equacionar. Parte das mulheres deve ter feito a avaliação de que foi um ato de coragem, coerente com a minha vida. E parte deve ter achado que eu não deveria ter desfeito um casamento de 37 anos. Não foi o que me fez perder. No frigir dos ovos, isso não elege nem derrota alguém. Os erros cometidos é que me fizeram perder.

E quais foram os principais erros?

Não quero ficar falando de derrota. Isso é página virada. Mas aprendi que tenho de ser mais humilde e de ter mais paciência com a imprensa. Entre os maiores erros, está o fato de tentar fazer muita coisa em pouco tempo. Serra reclamou tanto de como recebeu a Prefeitura... Se ele tivesse recebido a Prefeitura como nós recebemos, teria cortado os pulsos.

A senhora tem queixas de Serra?

Ele diz que as escolas de lata foram feitas na minha gestão, mas elas foram feitas pelo (Celso) Pitta e ele sabe muito bem que nós batalhamos com o Ministério Público para fazer as escolas de alvenaria e só conseguimos a licença no último ano da gestão. Todas as escolas que ele inaugurou foram iniciadas na nossa gestão, todas. É injusto. Isso me irrita e eu tenho de aprender a não ficar irritada.

Se a senhora fosse prefeita de São Paulo, largaria o mandato no meio para disputar a Presidência?

Eu nunca teria feito uma promessa que eu pensasse que eventualmente poderia não cumprir. Nunca. Eu teria dito que não assinava nada. Esse é o meu estilo.

Que avaliação a senhora faz hoje da administração de Serra?

Eu vejo a opção que ele fez em dar o calote, e dizer que nós tínhamos cancelado empenhos liquidados, o que não era verdade. Ele tinha como lidar com aquela questão sem fazer o circo que fez. Considero muito positivo ele estar terminando as escolas de alvenaria, estar fazendo cinco CEUs, dando continuidade ao Hospital Tiradentes/M'Boi Mirim. E gostei muito do leilão dos Cepacs, que ele criticou tanto na campanha, dizendo que era factóide. Como crítica, eu tenho escutado muito que a revolução da saúde não ocorreu. Eu só recebo queixa de que piorou. E na área do transporte as pessoas estão muito indignadas, por causa do aumento de preço logo que ele assumiu. Ocorreu a deterioração dos ônibus. Também achei bom ele continuar a obra do fura-fila com o dinheiro do BNDES. Isso mostra uma posição suprapartidária do presidente da República, que liberou a verba. O bilhete único, que tem validade de duas horas, não está tendo o desempenho que tinha.

A senhora não gosta do Legislativo?

Eu fui bem no Legislativo. Na época (em 1998), o candidato do PT era o Palocci. A campanha dele estava na TV, mas ele não subia. Eu tinha 9% sem campanha nenhuma. Aí o Lula me ligou e falou que seria interessante eu ser candidata.

Aliás, dizem em Brasília que ele poderá deixar o ministério para ser candidato ao governo de São Paulo. A senhora abriria para ele?

Não acho que isso possa ocorrer. Na conversa que tive com ele no dia em que fui falar com o presidente, ele disse não ter nenhuma intenção de sair do governo, a não ser que o presidente peça. Então, não creio. Eu acho que não há, no momento, nenhuma possibilidade de isso ocorrer. Se ocorrer, podemos conversar.