Título: Alimentos podem ter publicidade limitada
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/2004, Nacional, p. A4

Ministério quer regras para propaganda e venda de produtos dirigidos às crianças

O coordenador do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, defende a restrição de propaganda de alimentos para prevenir o crescimento da obesidade no País. Ele admite que esta será uma tarefa bem mais difícil do que foi para a restrição da propaganda de cigarros. "O fumo é satanizado, o oposto do que ocorre com alimentos, sempre rodeados de uma aura inofensiva. Certamente, a pressão da indústria será forte, mas é um desafio que temos de enfrentar." Para Guimarães, a redução da publicidade é fundamental para mudar o comportamento da população. "Efeitos positivos foram conquistados com a política contra o fumo. O mesmo pode ocorrer com a restrição de propaganda de alimentos infantis."

Um documento feito pelo ministério comentando resultados da pesquisa do IBGE também aponta a regulamentação da propaganda como eixo estratégico de uma proposta nacional para alimentação saudável. Além da regulamentação da propaganda, o texto cita a necessidade de criar regras específicas para a venda de alimentos nas escolas e o incentivo do consumo de verduras, frutas e legumes na população.

"A restrição da propaganda está sob análise de um grupo criado para traçar estratégias contra a obesidade. Mas é uma decisão que transcende o Ministério da Saúde", avalia o secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla.

O grupo foi formado este ano para estabelecer uma política nacional de atenção a portadores de obesidade, com medidas de tratamento e prevenção. As propostas da equipe deverão ser apresentadas em março. "O crescimento do número de obesos no País há tempos vem sendo detectado", diz.

Ele cita estatísticas de 1998 que mostram que 38,5% da população masculina e 38,8% da feminina eram consideradas obesas. Número bem diferente do registrado 1975: 8,6% dos homens desnutridos e 2,6% obesos. Desde então, o número de obesos só cresceu. Em 1997, o número de obesos já era bem maior entre a população masculina: 6,9% ante 3,4% de desnutridos.

A trajetória da obesidade e desnutrição entre mulheres foi parecida. No entanto, o aumento de mulheres obesas foi mais rápido. Em 1975, a porcentagem de desnutridas era de 12,7% e a de obesas 7,4%. Em 1989, já havia 6,6% de desnutridas e 12,3% de obesas.

Para tentar frear essa tendência, o ministério criou o grupo encarregado de definir ações de combate à obesidade em várias áreas. Entre elas, a ampliação das cirurgias bariátricas (para redução do estômago) e ações de prevenção nas escolas.

"O padrão da alimentação mudou. Hoje o consumo de alimentos ricos em açúcar e gorduras é muito maior do que o registrado na década de 70", comenta Solla. Ao mesmo tempo, o consumo de verduras, frutas e legumes ainda é considerado muito baixo. "Temos entre a população mais carente grande número de obesos. Por isso, temos de pensar políticas para atender a população carente e obesa."