Título: Nova petroquímica em fase de acertos
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2005, Economia, p. B5

A Petroquisa - empresa da área petroquímica da Petrobrás - e a Braskem definem neste trimestre qual será a participação acionária de cada empresa na fábrica de polipropileno, em Paulínia, no interior de São Paulo. Ambas assinaram um memorando no início de dezembro em que oficializam como o final de 2006 ou, no máximo, início de 2007, o prazo para o funcionamento da fábrica A unidade terá capacidade final de 300 mil toneladas de polipropileno por ano e demandará US$ 220 milhões, segundo informações da Petroquisa. A única definição ainda não tomada é sobre qual a participação de cada empresa. O problema estaria no fato de que a Petroquisa - seguindo planejamento estratégico da Petrobrás, apresentado no primeiro semestre do ano passado - querer o controle do negócio, ficando a Braskem como sócia minoritária.

O mercado acha que o avanço da Petrobrás no setor petroquímico é importante para viabilizar os empreendimentos necessários à elevação da oferta, além de assegurar à companhia a oportunidade de ter participação na geração de valor da matéria-prima que gera nas refinarias. Mas há dúvidas se esta seria a melhor configuração para o novo ciclo de investimentos do setor petroquímico, ou, pelo menos, para aqueles com participação da Petrobrás.

"Já enfrentamos dificuldades em negociar contratos com os fornecedores privados. Preocupa muito, ao setor de transformação de plásticos, o desejo da Petrobrás de ter o controle de negócios na área petroquímica", diz Merheg Cachum, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), organização que reúne as indústrias de transformação de polímeros.

MEIO TERMO

Nem o controle, nem a ausência. O polêmico ingresso da Petroquisa no setor terá de vencer uma barreira político-ideológica, avalia um interlocutor. Há quem afirme que o desenho societário que saíra do projeto com a Braskem, em Paulínia, é mais do que a largada efetiva da empresa no setor. Por ser o primeiro, mostrará ao mercado o fundamento conceitual para todos os demais investimentos da empresa no setor petroquímico. "Representará a definição sobre como a Petrobrás irá operar neste mercado", disse ao Estado uma fonte próxima ao negócio.

O Estado apurou que a Braskem quer ter o controle da fábrica de polipropileno, tendo a Petrobrás como a parceira estratégica no fornecimento da matéria-prima. Se se prosperar este modelo, o setor privado consolidaria a liderança do setor petroquímico nos próximos anos. O contrário poderia significar um recuo.

A questão fundamental não estaria na falta de demanda. O Brasil consome hoje mais de 4,4 milhões de toneladas e tem perspectiva de crescimento robusto nos próximos anos. O problema estaria no fato de a Petrobrás deter a matéria-prima e o controle de grandes ativos de transformação. Teria um poder excessivo sobre o mercado. Tudo isso ainda é avalição de cenários.

A melhor situação seria uma participação limite de até 49%, avalia alguns agentes do mercado. Isso colocaria a fornecedora da matéria-prima no negócio, o que traria segurança adicional para os parceiros privados, tanto em relação à oferta de matéria-prima, quanto à questão do preço.

Esta situação replicaria no Brasil o modelo adotado pelo governo mexicano. A Pemex, estatal mexicana do petróleo, criou um projeto chamado Phoenix, a partir do qual integra negócios na área petroquímica. Lá, a participação limite é de 49%. "No Brasil, enquanto há pessoas de tendência liberal que consideram ruim o controle de projetos petroquímicos por parte da Petroquisa, há também quem pense o oposto", diz uma fonte do setor petroquímico. O diálogo interno sobre o projeto de Paulínia é, na verdade, a discussão sobre um dilema: qual será a participação da Petroquisa nos empreendimentos. O Estado procurou ouvir a Petroquisa sobre a questão acionária, mas não obteve retorno.