Título: Candidato avulso é parte de 'revolta' mineira
Autor: Denise Madue¿o, Eugênia Lopes e Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Nacional, p. A4

Parte da bancada mineira do PT incentivou o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) a se lançar na disputa para a presidência da Câmara contra a candidatura oficial do partido, representada por Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O argumento usado para justificar a estratégia é que Minas não está devidamente representada no governo federal, depois do excelente desempenho do PT mineiro nas eleições municipais. Nos bastidores, Virgílio também teve o apoio do atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), para iniciar a empreitada. Magoado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a cúpula do PT, o deputado mineiro decidiu esticar a corda. "Mas não fiz nada pensando em cargos", disse Virgílio, na semana passada, negando boatos de que seu plano final seja disputar a presidência do PT, em setembro, com José Genoino, candidato à reeleição no comando do partido.

Para ir contra Greenhalgh, Virgílio alegou que o PT sempre apoiou o lançamento de candidatura avulsa quando era oposição, atitude que irritou Lula. "A escolha de Virgílio para o comando da Câmara seria uma demonstração de prestígio do PT de Minas, já que o atual presidente, João Paulo Cunha, é de São Paulo", afirmou Romênio Pereira, vice-presidente nacional do PT.

Conterrâneo de Virgílio, Romênio disse ainda que o mineiro "foi o mais votado" na eleição interna da bancada petista. "A reação do Virgílio sem dúvida foi por mágoa, já que ele prestou enormes serviços ao governo", observou o vice-presidente do PT, ao lembrar que o deputado foi o relator da reforma tributária.

Para Romênio, os petistas mineiros "deveriam ser mais bem representados" no partido e no governo. Atualmente, o PT tem três integrantes de Minas no ministério - Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Nilmário Miranda (Direitos Humanos). Em contrapartida, abriga quatro do Rio Grande do Sul, Estado onde o partido amargou importantes derrotas em Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas.

"O PT mais do que dobrou o número de prefeitos em Minas, na eleição de outubro: tinha 35 e hoje tem 87", destacou Romênio. Mas, na avaliação do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), essa briga de Estados não leva a nada. Reeleito no primeiro turno, Pimentel declarou que Virgílio deve respeitar a escolha de Greenhalgh para a presidência da Câmara.

A grande incógnita até agora, porém, é por que João Paulo entrou nesse jogo ao lado de Virgílio. Se queria embolar o meio-de-campo e forçar a retirada da candidatura Greenhalgh para mostrar seu poder de fogo, acabou se queimando. Lula ficou furioso e João Paulo foi obrigado a recuar.