Título: Creatina apenas promete aumentar desempenho
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Vida &, p. A10

A creatina foi tema de dissertação de mestrado do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Terapêuticas da USP. O trabalho mostra que o efeito da creatina não foi tão catastrófico para a saúde quanto o de anabolizante. Mas provou que sua ingestão também não cumpre um dos maiores objetivos perseguidos por quem a consome: alteração do desempenho a curto prazo na natação. O bioquímico Julio Tirapegui, orientador do trabalho, coordenou a performance de 18 nadadores com 70 quilos e idade média de 19 anos. Os atletas foram divididos em dois grupos. Em um, receberam suplementação de 20 gramas diárias de creatina. No outro, doses de placebo. Todos participaram de três etapas curtas de treinamento: de 50 metros, 100 metros e 3 séries repetitivas de 50 metros. "Em nenhuma foi constatada melhora no desempenho", diz Tirapegui. "Houve, sim, aumento de peso (cerca de 1,5 quilo), mas porque a creatina absorve água."

De acordo com Paulo Zogaib, fisiologista da Universidade Federal de São Paulo, a pesquisa mostrou que a creatina não é eficaz em atividades de curto prazo. "Seria preciso, no mínimo, um mês para ela fazer efeito. E só se for combinada com exercícios dirigidos e orientados por um treinador."

A longo prazo, também pode não funcionar. Willy Mendonça, de 18 anos, é atleta paraolímpico e consumiu creatina por dois anos. "Tomava uma colher (de café) antes de nadar, todo dia, mas não senti diferença", conta. "Hoje nado mais rápido, mas agora estou com pedras num rim. O médico disse que há a possibilidade de ser por causa da creatina."

A creatina é proteína produzida pelo pâncreas, pelos rins e pelo fígado, mas o armazenamento é principalmente nos músculos. "As proteínas são moléculas enormes e podem ferir os rins quando consumidas em excesso", explica Zogaib.