Título: Anabolizante afeta capacidade
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2005, Vida &, p. A10

Aqueles que insistem em malhar com a força de aditivos têm agora mais uma boa chance para deixar isso de lado. Duas pesquisas feitas no Brasil provaram cientificamente que o anabolizante e a creatina não melhoram o desempenho na atividade física, apesar de aumentarem a força dos músculos. O primeiro estudo, coordenado pelo Instituto do Coração (Incor), com a colaboração do laboratório de Bioquímica da Atividade Motora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), provou que em quatro meses o anabolizante potencializa em 40% o enrijecimento do ventrículo esquerdo - a bomba mais poderosa do coração, responsável por mandar o sangue oxigenado para todo o corpo - em relação a quem só faz musculação. Com o enrijecimento do ventrículo - fenômeno chamado de hipertrofia cardíaca -, o trabalho de contração e relaxamento do coração fica prejudicado, fato que diminui a capacidade física. "É uma bobagem consumir anabolizantes achando que ele melhora a performance", explica Janieire Nunes, coordenadora da pesquisa. "Eles aumentam o volume dos músculos e seriam eficazes para provas imediatas, de curtíssimo prazo. Para mudar o tamanho dos músculos sem aditivos é preciso, no mínimo, seis meses de atividade física dirigida." O experimento foi feito em 28 camundongos. Cada um ingeriu 5 miligramas por quilo, duas vezes por semana, do anabolizante nandrolona. A quantidade é equivalente a uma dose de 50 mg por quilo em humanos. Durante dois anos, os animais levantaram pesos proporcionais a 80% da força máxima que o corpo é capaz de erguer. Terminado o trabalho, os pesquisadores sacrificaram os camundongos para pesar seus corações e fazer análises bioquímicas deles. ARRITMIA A longo prazo (a partir de um ano), o resultado mostrou que a mistura de anabolizante com a musculação também pode ser perigosa e prejudicar o desempenho. O estudo indicou que quem consome anabolizante e faz musculação por mais de um ano tem três vezes mais chance de sofrer de arritmia (alteração dos batimentos cardíacos) em relação a quem só faz ginástica. Na pesquisa, os batimentos depois de um ano chegaram a 200 por minuto, enquanto a freqüência considerada normal fica entre 60 e 100 por minuto. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os anabolizantes, sejam de origem animal ou sintética, só podem ser vendidos com receita médica de duas vias e para fins terapêuticos. Ou seja, uma delas fica retida na farmácia. O nandrolona, anabolizante utilizado do estudo do Incor, é derivado do hormônio masculino testosterona, substância usada ilegalmente na engorda de gado. Ele é comercializado com o nome de Deca Durabolin. Mesmo sob regulamentação, muitos o consomem indiscriminadamente. Basta lembrar das histórias no ano passado de jovens que tiveram falência do coração, dos rins e dos pulmões depois de terem consumido altas doses do produto com o objetivo de ganhar massa muscular. O primeiro e mais famoso deles foi o do estudante Jackson Vieira de Souza, de Padre Bernardo, município goiano no entorno de Brasília, morto em setembro depois de ter injetado 25 mg de nandrolona em cada braço. Mais: pesquisa feita em dezembro pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com 2.219 estudantes e divulgada pelo Estado indicou que 2,39% dos adolescentes com idade de 14 a 18 anos usam anabolizantes para ganhar massa muscular. O próximo passo da pesquisadora é concluir a pesquisa com humanos.