Título: Software facilita a identificação de espécies
Autor: Evanildo da Silveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2005, Vida &, p. A11

O trabalho de biólogos, ecólogos e ambientalistas na identificação e classificação de espécies animais vai ficar mais fácil. O engenheiro de computação Ricardo da Silva Torres, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveu um programa de computador que torna essa tarefa mais rápida e precisa. O software substitui o sistema tradicional, que usa um livro contendo chaves, ou regras, para classificar cada animal segundo a família, o gênero e a espécie. Hoje, para realizar esse trabalho, os pesquisadores se valem dos livros que têm informações sobre todos os animais de uma classe, como mamíferos ou peixes, por exemplo. Depois de capturar um animal, eles o comparam com as espécies já registradas e identificadas na literatura científica.

Para isso, os cientistas abrem o livro daquela classe ou grupo e seguem as tais chaves, que são algumas características de determinado grupo. "Como, por exemplo, os olhos grandes", diz Torres. "A regra pode dizer: 'se tiver olhos grandes, procure em tal família'. Assim, o pesquisador vai seguindo as chaves até chegar à espécie a que pertence aquele exemplar coletado no campo."

PROCESSO AUTOMATIZADO

O programa desenvolvido por ele automatiza esse processo. Em vez de usar o livro, o pesquisador fornece ao computador algumas informações sobre o animal que quer identificar ou classificar, que pode ser uma foto do espécime coletado, descrições textuais dele ou dados geográficos (a região na qual ele foi capturado).

Em poucos segundos, o sistema processa cada consulta e procura num banco de dados a espécie igual ou a que mais se aproxima daquela que o pesquisador forneceu a foto ou outra informação. "Como resposta, o programa apresenta as espécies de peixe ordenadas segundo sua similaridade em relação à consulta do usuário", explica Torres. "Em geral, aquela a ser identificada é apresentada nas primeiras posições da resposta."

Para testar e validar o programa, Torres realizou milhares de experimentos, tendo como referência um banco de dados com 11 mil imagens de peixes. Depois, o sistema foi testado por biólogos e especialistas em biodiversidade, os potenciais usuários do novo software. "Eles aprovaram o programa", diz Torres. "Os testes mostraram que os acertos na identificação são maiores com a ferramenta computacional do que usando a forma tradicional baseada em chaves."

De acordo com Torres, com esse último, os especialistas conseguiram identificar 100% das famílias, 82,9% dos gêneros e 51,4% das espécies. Já com o sistema desenvolvido por ele, esses percentuais foram de 100%, 91,4% e 62,9%, respectivamente. "Além disso, gasta-se menos tempo no processo de identificação", acrescenta. "O tempo médio necessário para a identificação correta pelo método convencional foi de 6,1 minutos, enquanto pela nova ferramenta foi de 4,1 minutos."

Além desses resultados, outra mostra da eficiência da nova ferramenta é o fato de já estar sendo usada no ensino de ictiologia (estudo dos peixes), na Universidade da Virginia Tech, nos Estados Unidos. Foi nessa instituição que Torres fez parte de seu doutorado e desenvolveu o programa. A idéia agora é aperfeiçoar o protótipo, para que ele tenha outras aplicações.

Torres diz que embora o sistema tenha sido validado com peixes, o programa poderá ser aplicado a outras espécies animais ou vegetais. Além disso, a ferramenta também poderá vir a ser utilizada na área médica para identificar células cancerígenas, por exemplo. Nesse caso, a imagem da célula do paciente seria comparada com as imagens das cancerosas, armazenadas em um banco de dados, facilitando assim o diagnóstico.