Título: Movimentos sociais tentam blindar Olívio contra demissão
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Nacional, p. A6

Movimentos populares, organizações não-governamentais e até empresários despejaram no Palácio do Planalto uma avalanche de cartas e manifestos pedindo a permanência de Olívio Dutra à frente do Ministério das Cidades. Preocupados com o destino do petista na anunciada reforma ministerial, lançaram uma espécie de "Fica Olívio". Ao que tudo indica, a tentativa deu certo: dono do bigode mais avantajado da Esplanada, o gaúcho virou um ministro blindado pelo movimento social. Um integrante do núcleo de coordenação política do governo disse ao Estado que, apesar dos boatos, dificilmente Olívio sairá da equipe. "A pressão de fora para ele ficar é muito grande".

Por ter um orçamento recheado de emendas parlamentares - neste ano será mais de R$ 1 bilhão -, o ministério é alvo da cobiça de aliados. O PMDB chegou a reivindicar a cadeira de Olívio, mas já desistiu, com o argumento de que, ali, o território está "loteado de petistas". A senadora Roseana Sarney (PFL-MA) foi mais discreta. Mesmo assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva soube que ela gostaria de administrar Cidades. Não gostou.

"Esse ministério pode ser usado como vitrine para a promoção de um ministro, mas esse não é o meu jeito", comentou Olívio, que retornará ao trabalho hoje, depois de férias de fim de ano no Rio Grande do Sul - Estado governado por ele de 1998 a 2002. Bem-humorado, ele disse ver um "cipoal de especulações" em torno de seu gabinete, transformado em "objeto do desejo" político. "Mas isso não me irrita. O que não se sabe é se a disputa é por cargos ou encargos", brincou.

Sem contar os prefeitos do PT - que tentaram divulgar moção de apoio a Olívio, mas foram impedidos pela direção do partido -, o presidente do Secovi (sindicato que representa construtoras e imobiliárias) de Mato Grosso do Sul, Marcos Augusto Netto, é um dos maiores defensores do gaúcho. Representante da Confederação Nacional do Comércio no Conselho das Cidades, Netto foi escalado para entregar na Casa Civil, no fim do ano passado, um abaixo-assinado pela manutenção do ministro petista.

"Eu não sou do PT, mas sou justo", disse o empresário, ao lembrar que, antes, não havia um fórum específico para tratar do planejamento urbano. "A grande coisa que o Ministério das Cidades fez foi dar oportunidade aos empresários para debaterem suas propostas com o Executivo. Se a atual equipe sair, vai voltar tudo à estaca zero."

A Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae) foi mais longe: chegou a pôr na internet (www.assemae.org.br) um manifesto pedindo a permanência de Olívio.

"Uma eventual mudança será um retrocesso na construção de uma nova política de desenvolvimento para o nosso país e a ruptura de um pacto que vem sendo construído com (...) amplos setores da sociedade", diz um dos trechos do documento, assinado por 25 entidades. Para o secretário-geral do Fórum Nacional de Reforma Urbana, Orlando Santos Jr., a questão ultrapassa a fronteira ideológica. "Queremos evitar que tudo o que foi conquistado vire uma bolha", insistiu ele.