Título: Fusão agita empresas de segurança
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2005, Economia, p. B9

O mercado brasileiro de segurança está às vésperas do maior e mais importante movimento desde o início da expansão do negócio, no começo dos anos 90. Em 2005, deve ter início um processo de consolidação, ou concentração, a partir de fusões e aquisições de empresas médias pelas grandes, que têm o desejo de se tornar gigantes. Os segmentos que liderarão esse processo devem ser o de vigilância patrimonial e, principalmente, o de transporte de valores. Para este último, o mercado prevê a incorporação de novos serviços, como a gestão de caixa de auto-atendimento das instituições financeiras e de grandes redes de varejo.

"É um processo inevitável e necessário para que o setor consiga, em primeiro lugar, recuperar margens financeiras para operação (que têm sido achatadas devido à grande concorrência do setor) e garantir os investimentos em tecnologia que suportem grandes operações de tesouraria", explica Paulo Dalla Nora, diretor do Grupo Nordeste/Transbank, uma das grandes empresas do setor que acaba de dar o pontapé inicial para esse processo de consolidação.

O grupo comprou em dezembro a divisão de segurança e transporte de valores da Norsergel, empresa do Maranhão que cobre a região Norte do Brasil. Com isso, a Nordeste alcança agora 19 estados, tem 20 mil empregados e 15 mil clientes. A operação, segundo a direção da empresa, passa a ter um ganho de escala que resultará numa economia de R$ 5 milhões por ano. "Não tem jeito. Fico imaginando os ganhos de escala possíveis entre as 15 ou 20 empresas que operam em São Paulo. São absurdos os custos duplicados que existem neste setor", diz. A Nordeste opera em São Paulo com a bandeira Transbank.

A própria Nordeste afirma ter recebido a sondagem de duas empresas em seguida ao anúncio da compra da Norsergel. "Uma de São Paulo", revela. Com o negócio, o grupo disputará agora a liderança do mercado de transporte de valores no País com a espanhola Prosegur, que até agora liderava o segmento transporte de valores. A estimativa da Nordeste é conseguir, com a incorporação do faturamento da Norsergel, alcançar uma receita operacional de R$ 600 milhões em 2005.

Interessada neste novo cenário do mercado de segurança e transporte de valores, a direção da Prosegur também se considera "numa fase de expansão". Planeja um forte investimento em 2005 na substituição de frota e, principalmente, no aperfeiçoamento dos serviços de terceirização de tesouraria (cash management), uma demanda natural das instituições bancárias e empresas de varejo, explica Martin Hackett, diretor-presidente da Prosegur.

Além do transporte, é cada vez mais comum o avanço das empresas de transporte de valores na gestão completa dos caixas eletrônicos e de controle de numerário para as empresas de segurança. "Estas não ficam apenas na atividade de transporte de valores, mas poderiam - a partir do suporte da tecnologia da informação - controlar o fluxo de valores", diz Hackett. O investimento da empresa será de pelo menos R$ 32 milhões neste ano, fora os recursos para aquisições. Fontes do mercado afirmam que, fora o crescimento "orgânico", a empresa pode expandir a área de atuação com aquisições. O objetivo principal neste ano será conseguir adquirir alguma operação na região Nordeste.

A Prosegur fechou 2004 com equilíbrio econômico-financeiro, o primeiro dos últimos três anos. "Passamos dois anos (2002 e 2003) com grande restrição de investimento", afirma. Esta é uma situação intimamente relacionada com o atual panorama do mercado brasileiro de segurança, um negócio que movimenta dentro da economia formal R$ 8,5 bilhões. "A estimativa é que o mercado informal seja superior a isto", diz Mauro Catharino, gerente do projeto de modernização e consolidação da Federação Nacional das Empresas de Vigilância e de Transporte de Valores (Fenavist).

O trabalho, coordenado pela Mezzo Planejamento, teve o objetivo de identificar a tendência de mercado e auxiliar o setor a fazer uma transição "menos traumática". "Não será fácil", lembra Nora, do Grupo Nordeste. "Acho que chegou a hora de o empresário do setor perguntar a si mesmo em frente ao espelho: tenho uma empresa que poderá ser em dois ou três anos uma das quatro ou cinco grandes do mercado e fazer os investimentos necessários para disputar em pé de igualdade uma posição neste novo mercado?", sugere Nora. A resposta invariavelmente, diz ele, será não. Neste caso, as empresas devem buscar melhorias capazes de torná-las mais atrativas para as grandes.

DESAFIO

Segundo a Fenavist, o ritmo de consolidação das empresas não será mais acelerado devido aos problemas financeiros gerados pela excessiva competição. "Temos alertado as empresas para o fato de não olharem apenas o faturamento, mas também para os passivos trabalhistas", diz Catharino, da Fenavist.

Para tentar resolver este problema, a federação estuda, dentro do projeto de modernização e de consolidação, a criação de mecanismos financeiros para dar suporte a eventuais negociações. O sistema já foi construído, mas é mantido em sigilo no aguardo da aprovação de órgãos reguladores.