Título: Militares se queixam da falta de acesso ao ministro Alencar
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Nacional, p. A6

Menos de três meses depois de tomar posse no cargo de ministro da Defesa, o vice-presidente José Alencar começa a enfrentar os primeiros problemas internos. O motivo principal é, no mínimo, difícil de ser entendido por quem está de fora e conhece o perfil do ex-senador: dificuldade de acesso a ele, apesar do seu temperamento descontraído e acessível a todos. As queixas são inúmeras e em todos os níveis, embora a cúpula das Forças Armadas tente minimizar o problema para não ser acusada de minar mais um ministro da Defesa. Ninguém pode falar diretamente com ele, de todos os níveis hierárquicos e postos, sem antes passar o telefone para o seu chefe de gabinete, Adriano Silva. As secretárias são proibidas de transferir ligações e os problemas vão se avolumando.

O mesmo filme, lembram os militares e civis do Ministério, já foi visto no tempo do ex-ministro Élcio Álvares, primeiro a ocupar a pasta da Defesa, quando foi criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A assessora especial e fiel escudeira de Élcio, Solange, também dificultava o acesso de todos ao ministro, dando chá de cadeira inclusive na alta esfera militar, o mesmo que ocorre hoje.

Ninguém do ministério ou das Forças pode ligar diretamente para Alencar, ainda que ele nunca tenha dito isso ou, como muitos acham, não tenha conhecimento de que esta prática acontece.

A história se repete em relação a um outro problema, que também incomoda os militares. Boa parte da agenda do ministro e vice-presidente é dedicada a resolver problemas políticos e partidários, como ocorreu nas últimas semanas, quando Alencar recebeu, na Defesa, parlamentares para tentar contornar a crise criada pela candidatura avulsa de Virgílio Guimarães à presidência da Câmara. Há um temor de que se misture a política com assuntos técnicos e militares, levando de volta a política para os quartéis.

SEM TEMPO

Os assuntos da Defesa também estão praticamente parados porque não há espaço na escassa agenda de Alencar para tratar de assuntos burocráticos internos. Há uma grande preocupação de como as coisas se passarão, a partir de março, quando as Forças voltarem a funcionar em plena carga - agora estão em regime de meio expediente - e começarem os exercícios militares pelo País e forem necessárias soluções para problemas que poderiam ser resolvidos com telefonemas ou rápidos despachos.

O relacionamento pessoal dos comandantes com o ministro e vice-presidente é considerado o melhor possível e eles jamais farão chegar a Alencar este tipo de problema. No Exército, inclusive, há uma enorme preocupação com este tipo de tema, uma vez que o comandante da Força enfrentou sérios problemas com o ex-ministro José Viegas, que acabou deixando a Defesa. O Exército faz questão de dizer, oficialmente, que não tem nenhuma dificuldade de relacionamento ou de despachos, seja com o vice-presidente, seja com seu assessor.

A imprensa também tem enfrentado problemas para ter acesso, por exemplo, à agenda do ministro. A única forma de obter informações sobre o que ele faz ou pensa é falando diretamente com ele, em alguma solenidade ou na portaria do Ministério, já que ele é bastante acessível.

O problema ainda não foi sentido pelo Palácio do Planalto já que o entendimento por lá é de que o clima é o melhor possível em razão da personalidade de Alencar. Seria mesmo, na opinião de diversos militares, se não houvesse barreira a ser enfrentada.