Título: Rio: megaoperação com ajuda federal
Autor: Carolina Iskandarian
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2005, Metropole, p. C6

RIO - Uma semana depois de o governo federal ter aprovado o Plano de Segurança Integrado da Secretaria de Segurança Pública do Rio, a primeira ação conjunta entre as forças federais e estaduais de combate à criminalidade ocorreu ontem em dois pontos do Estado. No complexo de favelas da Mangueira, na zona norte, um suposto traficante morreu e três foram presos numa operação com 482 policiais. Na Via Dutra, altura do município de Penedo, no sul fluminense, a Receita Federal apreendeu materiais falsificados e sem nota fiscal. Por volta de 4 horas, os 40 policiais federais e os 442 policiais civis e militares seguiram do Batalhão de Choque da PM, no centro, para os Morros da Mangueira, Telégrafo, Candelária e Tuiuti. Durante a operação, houve troca de tiros e Sérgio Rodrigues foi morto. Segundo a polícia, ele estava com um fuzil AK-47.

Um dos presos é Wanderson Felício Aguiar, o Lamparina, de 34 anos, suspeito de envolvimento na morte do diretor de bateria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, Robson Roque, em dezembro. Um exame de DNA provou que as ossadas deixadas no alto do Morro dos Telégrafos eram dele.

Os outros presos são Rodrigo Alves Barboza Gomes e Emanuel Santana, com quem a polícia disse ter encontrado dois carregadores de pistola Glock. Os policiais também recuperaram cinco carros e seis motos roubadas e apreenderam 1.041 papelotes de cocaína. Três helicópteros (um da Polícia Civil, outro da Militar e outro da Federal, que veio de Brasília) e o carro blindado da tropa de elite da PM (Bope) apoiaram a ação.

Na Dutra, a operação Cota Zero começou às 5 horas e deveria terminar no fim da tarde. Quarenta agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), seis policiais federais e dez fiscais da Receita Federal vistoriaram ônibus e carros. Com os passageiros, foram recolhidos tênis e roupas falsificados, além de equipamentos de informática e eletroeletrônicos, sem nota fiscal.

Sete pessoas foram detidas, entre elas, cinco peruanos com documentação ilegal. "A repressão ao tráfico de drogas nos morros facilita o contrabando e o tráfico nos ônibus. O criminoso acha que está tranqüilo na estrada", informou o inspetor da PRF Hélio Dias, justificando a operação. Até o fim da tarde, a quantidade de mercadoria recolhida não havia sido divulgada.

FUZIL

O secretário da Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, elogiou a atuação conjunta nas favelas e disse que a cooperação, anunciada dia 21, em Brasília, vai continuar. "Essa é a primeira de uma série de operações que tem de ir até os Jogos Pan Americanos de 2007." Ao ser perguntado se o resultado da ação foi pequeno, Itagiba afirmou: "Um fuzil retirado de circulação são vidas que estamos poupando." Para ele, a integração das forças "é o caminho correto para combater a criminalidade no Rio". A Mangueira foi a favela escolhida porque, além de combater o tráfico de drogas na região, a polícia procurava os assassinos de Robson Roque.

De acordo com o secretário, as primeiras operações previstas no Plano de Segurança Integrado, cujo lema é "inteligência, massa e força", já ocorreram com mais de 500 policiais no Morro dos Macacos (zona norte) e na Favela da Rocinha (zona sul), sem a ajuda das forças federais.

Pela manhã, dois menores foram presos e dois policiais civis ficaram feridos numa troca de tiros com traficantes, durante operação isolada na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na zona sul.

Marcelo Henrique de Mesquita, de 29 anos, foi atingido por estilhaços nas mãos e Eduardo de Andrade Abrantes, de 31, baleado no peito. Levados para o Hospital Copa D'Or, em Copacabana, eles passam bem.

Na ação, que contou com a participação de 40 homens da Delegacia de Roubo e Furtos de Automóveis e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil (Core), foram encontradas com os menores uma granada e uma farda das Forças Armadas. Os policiais investigavam a denúncia de que traficantes do local planejavam invadir a Rocinha.