Título: Nas ruas de João Alfredo, uma festa para seu Zito
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Nacional, p. A7

Seu Zito, como é conhecido o novo presidente da Câmara em sua cidade natal, João Alfredo, a 110 quilômetros do Recife, no agreste, é comparado a "Nosso Senhor Jesus Cristo" e tido como "o fundador da cidade" pelo povo que "pertence" ao seu partido. Não o PP, até porque ele já passou por muitas siglas na sua vida política de 40 anos. "Aqui só tem dois partidos: o do seu Zito e o do adversário", explicou Ivaldo Afonso de Barros, de 65 anos, que vota em Severino Cavalcanti desde 1963, quando ele iniciou sua carreira política, elegendo-se prefeito da cidade. "Ele é simples, visita o povo de porta em porta, fala com todo mundo, quando a gente vê ele (sic), é como se estivesse vendo Nosso Senhor", disse Diva Gomes da Silva, 46 anos, que trabalha em um mercadinho e tem casa própria na Vila Asa Branca, graças ao deputado. "Se você sair perguntando, todo mundo aqui deve alguma coisa ao seu Zito", garantiu ela, que comemorou a vitória do parlamentar numa carreata com fogos, orquestras de frevo e carro de som na noite de terça-feira, numa festa que se estendeu até o dia seguinte.

A comemoração se arrastou pelo dia seguinte, mas a festa para valer ainda está por vir. O vereador Wilson França, do PP, espera definir a data da próxima visita do novo presidente da Câmara a João Alfredo, para que ele seja carregado nos braços do povo.

Severino não fez a maioria na Câmara Municipal - tem quatro aliados contra cinco da prefeita Maria Sebastiana da Conceição (PFL), sua adversária, e perdeu o comando da prefeitura nas duas últimas eleições. Mas ontem ninguém da oposição se dispôs a falar contra seu Zito.

TERCEIRO HOMEM

A expectativa é que ele se torne mais forte com o novo cargo. "Taí o fraquinho agora", comemorou José de Lima Campos, 75 anos. "Ele agora é o terceiro homem do País."

Baixinho, chapéu na cabeça, sorridente, José de Lima disputou com Damiana Maria Ferreira, 64, quem mais sabia dos feitos e das qualidades de seu Zito. Homem de paz, se mistura com o povo, come banana na feira sentado em um banquinho ao lado dos feirantes, generoso, católico. "Ele não sabe o que é vingança, sua arma é um rosário de Nossa Senhora", disse José de Lima, ao lembrar que Severino já foi coroinha da igreja.

"O pai dele era alfaiate, ele foi agricultor, mas estudou, foi para São Paulo e voltou rico", relatou Damiana, informando que o hospital, o matadouro, o calçamento, a eletrificação, a indústria moveleira, o desenvolvimento da cidade, tudo foi promovido por seu Zito Cavalcanti. "Se aquele homem morrer, se acaba João Alfredo", complementou Maria Ferreira Dutra. Maria Margarida da Silva, de 28 anos, também ganhou casa na Vila Asa Branca e a maioria dos professores da rede estadual - grande parte aposentada - foi nomeada por Severino.

Deputado estadual sete vezes e no terceiro mandato de deputado federal, Zito Cavalcanti é o "único filho da terra" que representa João Alfredo no Congresso. O município tem 30 mil habitantes e, segundo dados de 2000, tem taxa de analfabetismo de 54,8% na população de 11 a 14 anos.