Título: Morre em Londres o escritor cubano Cabrera Infante
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2005, Vida &, p. A10

O escritor cubano naturalizado britânico Guillermo Cabrera Infante, Prêmio Cervantes de Literatura de 1997, morreu ontem, aos 75 anos, num hospital de Londres, em conseqüência de septicemia. O autor de Três Tristes Tigres e Mea Cuba vivia na capital inglesa fazia 40 anos, depois de romper com o regime de Fidel Castro. Era um "homem de eterno charuto na boca, quase saído de uma cena de film noir, um perfeito cubano com perfeito ar de lorde", cujo senso de humor estava "mais para o chuvisco londrino do que para o sol tropical", descreveu-o, certa vez, em texto para o Estado, o escritor João Silvério Trevisan, tradutor de Havana para um Infante Defunto.

Nascido em Gibara, província oriental de Cuba, em 22 de abril de 1929, mudou-se em 1941 para Havana para estudar Medicina, curso que não concluiu. Em 1950, entrou na Faculdade de Jornalismo e, em 1954, sob o pseudônimo de G. Caín, começou a fazer crítica de cinema.

Cinéfilo apaixonado, fundou a Cinemateca de Cuba em 1951. Mais tarde, virou roteirista, tornando-se o primeiro escritor latino-americano que chegou a Hollywood nessa condição profissional. No fim dos anos 90, trabalhou no script de A Cidade Perdida, no qual recria a vida noturna de Havana pré-Fidel, com o ator Andy García, ainda não filmado.

ANTICASTRISTA

Com a queda do general Fulgêncio Batista e a chegada de Fidel ao poder, em 1959, Cabrera Infante foi nomeado adido cultural de Cuba em Bruxelas, cargo que ocupou de 1962 a 1965. Suas discordâncias crescentes com o novo regime, porém, chegaram ao auge em 1968, quando criticou o governo cubano numa entrevista à revista argentina Primera Plana. Chamado a Cuba para dar esclarecimentos, abandonou a carreira diplomática e pediu asilo político no Reino Unido. Em 1960, escreveu Vista do Amanhecer no Trópico, que fala da noite de Havana, de episódios de violência da época de Batista e da luta dos revolucionários em Sierra Maestra.

Atualmente, seus livros estão proibidos em Cuba, mas circulam em edições clandestinas. É o que ocorre, por exemplo, com Havana para um Infante Defunto (1979) e Corpos Divinos (1985), ambos autobiográficos. Além da política, o erotismo está presente em toda a sua obra, mas sempre "em função da paródia e do riso, coisa que um autor erótico não faria nunca", descreveu.

A esses livros seguiram-se vários outros. Entre os mais recentes figura a antologia de contos Minha Música Extrema. O escritor era casado com a atriz cubana Miriam Gómez.