Título: Flagrante de racismo em shopping na Bahia. Todo filmado
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/12/2005, Vida&, p. A15

Homem estava com a filha, de pele clara. Gritaram: ´Ele é negão´

O que deveria ser um sábado de compras de Natal em Salvador se transformou em um pesadelo racista para o ajudante de caminhoneiro Antônio dos Anjos Pereira, sua filha, Sabrina, de 2 anos, e a mulher, Rosileusa Damasceno. Seguranças do Shopping Piedade, dentro da loja C&A, acharam que ele havia seqüestrado a menina - que, na verdade, é sua filha, mas com pele bem mais clara.

Depois que conseguiu provar ser o pai de Sabrina, Pereira prestou queixa na 1ª Delegacia de Polícia e quer processar os responsáveis pelo ato de racismo e constrangimento. A versão da direção do shopping é que seus 'funcionários não se envolveram no caso, ocorrido, sim, entre clientes'.

Conforme Pereira, ele estava nalojacom afilhano colo,esperando pela mulher. Uma das sandálias de Sabrina soltou-se e ela começouachorar,chamandoaatenção dos seguranças. 'Quando me abordaram, protestei: ´É minha filha, rapaz!´', contou. Mas eles acabaram insistindo, incentivados por um cliente que gritou de longe: 'Ele é negão, não deve ser a filha dele'.

Pereira disse ter ficado muito nervoso, até que sua mulher, morena de pele clara, chegou e mostrou a carteira de identidadeda menina e convenceu osseguranças do equívoco.

'Foi meia hora de sufoco', desabafou Pereira, lembrando nunca ter sido vítima de racismo em Salvador, cuja população tem 80% de afrodescendentes. Rosileusa reclamou do despreparo dos funcionários. O grande trunfo da vítima é um cliente que passava pelo local e gravou tudo com a filmadora do seu celular. A delegada Idalina Lima abriu inquérito e ouviu o depoimento de Pereira, da mulher e do homem que filmou a cena. 'Caso seja constatado o crime de constrangimento e racismo, os responsáveis serão processados', disse. A pena prevista para os crimes varia de 1 a 3 anos de prisão.