Título: Para Kirchner, proteção da indústria é ponto de honra
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

BUENOS AIRES - Argentina e Brasil só terão uma nova Política Automotiva Comum (PAC) daqui a seis meses, se não ocorrerem guinadas no cronograma. Até lá, os dois países passarão por um duro período de dois meses de negociações, mais uma etapa de transição de quatro meses, até que em 1.º de julho entrarão em vigor as normas que vão regular o comércio bilateral do setor. O livre comércio automotivo entre Brasil e Argentina é rechaçado categoricamente pelo presidente Néstor Kirchner, para quem a indústria automotiva local não pode competir com a potência das montadoras instaladas no país vizinho. Desta forma, fica limitado, mais uma vez, o espírito de livre comércio entre os sócios do Mercosul, que teoricamente seria a tônica do bloco. Dos últimos presidentes argentinos, Kirchner é o mais enfático na defesa das indústrias locais. Ele transformou em suas principais bandeiras a recuperação econômica, a reindustrialização e a proteção a setores industriais que sofrem concorrência das similares brasileiras. Kirchner destaca que não pretende permitir que a Argentina tenha um destino puramente agrário.

Para ele, o livre comércio só será possível quando houver equilíbrio na proporção de investimentos das montadoras dos dois lados da fronteira. O problema, alega, é que nos últimos anos as empresas preferiram fazer investimentos do lado brasileiro, onde, segundo os argentinos, há ¿suculentos¿ incentivos fiscais.

O governo Kirchner rejeita a possibilidade de que vigore o livre comércio, pois teme que nesse cenário o volume da venda de automóveis brasileiros aumente de forma exponencial. A participação brasileira no mercado local chega a 63%. Os negociadores argentinos querem mudar a regra do sistema chamado ¿flex¿, que estabelece que para cada R$ 2,6 exportados é possível importar US$ 1. Eles defendem a paridade de US$ 1 por US$ 1. De quebra, exigem mais proteção para as empresas de autopeças argentinas.