Título: Copom não dá pista sobre cortes
Autor: Fabio Graner, Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Ata explica redução da taxa Selic em dezembro e diz que inflação tem futuro positivo

BRASÍLIA - Mesmo traçando um futuro positivo para a inflação e para o crescimento econômico, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não trouxe pistas sobre se a diretoria do Banco Central (BC) pretende acelerar o ritmo de cortes na taxa de juros básica da economia, a Selic. O documento divulgado ontem explica que o corte da Selic (tomada pela maioria dos diretores) em 0,5 ponto porcentual seria a mais "adequada" por permitir que os juros caiam por mais tempo, sem risco ao controle da inflação. "Para a maioria dos membros do Copom uma redução de 0,5 ponto porcentual seria adequada, dado que corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação desse processo de flexibilização e contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado."

Analistas afirmam ter sentido falta de mais detalhes sobre os votos dissidentes do Copom - dois diretores votaram por uma redução de 0,75 ponto porcentual - e concordam que a ata praticamente não dá sinais sobre os cortes futuros.

Também destacam o fato de que o documento divulgado ontem, sobretudo no capítulo Implementação da Política Monetária, praticamente repete o texto da ata de novembro, à exceção da frase sobre os votos favoráveis a um corte maior.

Na busca por indicações sobre os próximos passos do Copom, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, acha que a expressão "velocidade ótima" indica cortes maiores a partir da próxima reunião. Mas isso não significa mais ousadia do BC.

Ele explicou que, para manter o ritmo atual de redução na Selic, as quedas terão de ser maiores porque o Copom só vai se reunir 8 vezes no ano que vem. "Oito cortes de 0,75 ponto porcentual são exatamente a mesma coisa do que 12 cortes de 0,5 ponto percentual."

"Se o BC cortar o juro em 0,5 ponto em janeiro, isso significa que está reduzindo o ritmo dos cortes, já que haverá apenas oito reuniões. É uma lei da física", concordou a economista do banco ABN Amro, Zeina Latif.

Já o economista do Grupo de Acompanhamento Conjuntural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Thadeu Filho, não faz essa associação. Para ele, a insistência do Copom em dizer que busca preservar as conquistas obtidas no combate à inflação, é um sinal de que os diretores devem manter a cautela nas próximas reuniões.

"A maioria do Copom pensa que se os cortes forem acelerados e a inflação subir, essa conquista pode ir por água abaixo", afirmou o economista.

Embora aposte numa redução de 0,5 ponto em janeiro, ele vê espaço para os juros caírem 1 ponto porcentual.

Para o economista-chefe do banco Pátria, Luiz Fernando Lopes, o que pode determinar cortes maiores na Selic é a atividade econômica, que para ele ainda é "um ponto de interrogação". Ele questiona a avaliação do Copom sobre a recuperação do crescimento. "A atividade econômica está perdendo fôlego, mas eles dizem que haverá recuperação. Os indicadores estão sugerindo crescimento fraco no quarto trimestre deste ano. É isso que vai definir os rumos do Copom. Se eles virem que o ritmo de crescimento levará a uma expansão menor do que 3,5% no ano que vem, eles devem cortar a Selic com mais força, desde que a inflação também não ofereça surpresas."

Na ata, o BC destaca que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre será revertida e o País crescerá nos próximos trimestres, sustentado pela expansão do consumo das famílias e das exportações, a despeito da redução do investimento no terceiro trimestre. "A atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão em ritmo condizente com as condições de oferta de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação", diz a ata. "Mas esse diagnóstico é controverso", afirmou Luiz Fernando Lopes, do Pátria.

Luís Otávio Leal, do banco ABC, também questiona a avaliação do BC sobre o nível de atividade. "Em nenhum momento eles dão o braço a torcer sobre a surpresa negativa do PIB no terceiro trimestre. Eles poderiam ter dito isso, mas tergiversaram analisando o resultado pelo lado da demanda, o que foi uma forma de minimizar o resultado negativo."

Outro ponto importante da ata foi a previsão de que a inflação deve cair em dezembro, bem como a projeção de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará no ano que vem abaixo da meta de 4,5%.

Mas o mercado discorda e projeta inflação acima do objetivo do governo para o ano que vem.