Título: PUC começa corte de 20% da folha
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/12/2005, Vida&, p. A17

Demissão de professores é antecipada a pedido da Igreja, que deve anunciar em breve padre como interventor

Sob ameaça de uma intervenção do cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) começa hoje um corte de pelo menos 20% na folha de pagamento dos professores ¿ uma intensificação das demissões iniciadas no início do mês. O objetivo é tentar acabar com o déficit mensal de R$ 4 milhões da instituição, que acumula uma dívida bancária de mais de R$ 71 milhões. Apesar da diminuição no quadro de funcionários, do enxugamento de setores administrativos e das terceirizações promovidas pela atual reitoria desde o início do ano, a universidade conseguiu economizar apenas R$ 1,6 milhão ¿ valor insuficiente para superar a crise financeira. ¿Na segunda-feira, o cardeal me chamou e disse: `Lamentavelmente, a sua administração não fez os cortes necessários. Reconhecemos que foram dados passos, mas não suficientes. Os bancos exigem corte imediato e não estão acreditando que essa administração consiga fazê-lo¿¿, contou a reitora Maura Bicudo Véras, em um pronunciamento no Teatro Tuca para professores, alunos e funcionários.

A reitora disse que recebeu de d. Cláudio um prazo de dois dias para tentar convencer os bancos e fazer novos ajustes. Caso isso não ocorresse, ele garantiu que nomearia um interventor para a universidade. Essa pessoa assumiria a função de secretário-executivo da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC. O cargo tradicionalmente é ocupado pela reitora.

¿D. Cláudio tem todo o direito como grão-chanceler da PUC de nomear quem ele quiser¿, afirmou Maura. ¿Estamos dispostos a começar já o corte para fazer os ajustes. Vamos lutar para manter a nossa autonomia. Não consegui falar com d. Cláudio hoje, ele estava viajando e não atendeu ao telefone. Ele me deu dois dias de prazo que já terminaram¿, concluiu a reitora, sem deixar claro ainda o desfecho da crise.

Ontem, havia comentários na instituição de que, em caso de uma nomeação, um dos possíveis nomes cotados para assumir a função seria o do padre Rodolpho Pazzolo, atual secretário-executivo-adjunto da fundação. Procurado, o padre não quis comentar a possibilidade. A demissão dos professores, que representam 76% da folha total de pagamento da universidade, segundo a administração, havia começado em alguns departamentos. Eles foram o último setor atingido pela reforma administrativa iniciada para controlar a dívida, renegociada em agosto e parcelada em 74 meses. Isso, segundo a reitora, porque os cortes não poderiam ser feitos durante o ano letivo, para não haver risco de prejudicar as aulas.