Título: Novo chefe em SP quer deixar os corruptos 'só de cueca'
Autor: Fausto Macedo e Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2006, Nacional, p. A9

Ao garantir ontem que dará ênfase ao combate à corrupção, o novo superintendente da Polícia Federal em São Paulo, delegado Geraldo José de Araújo, disse que "a sociedade está muito exigente, o brasileiro já não é mais tolerante". Ele defendeu, como punição exemplar, "deixar o corrupto literalmente de cuecas, sacar tudo dele". "É a maior punição que pode haver", insistiu. "Tem coisa que dói mais no bolso?" Araújo alertou que eles (os corruptos) estão se aperfeiçoando e a PF tem procurado acompanhar, "mas é difícil". Ele reconheceu que "em algumas coisas os corruptos estão à frente e a PF sabe que tem que esmerar mais".

Para Araújo, "a PF é um órgão que dá exemplo a todos porque corta na própria carne". "Não importa se dói, mas, se o corte tem que ser feito, que seja, porque não pode prosperar. Isso é um câncer e, se não atuar com precisão cirúrgica, provoca metástase, é um perigo."

Ressaltou que a máquina pública tem uma série de entraves legais. "Temos limites legais, nossa legislação é assim, temos limites orçamentários. O crime organizado não tem isso, não tem contingenciamento, não tem restrição, então em algumas coisas eles disparam e temos que ter competência para enfrentá-los."

Aos 53 anos, mineiro de Patos de Minas, Araújo está há 32 anos na PF. Durante oito anos dirigiu a PF no Pará - em 2001, sua equipe capturou o ex-governador do Estado, Jader Barbalho (PMDB). Entre 1993 e 1995, ele foi adido policial na Embaixada brasileira na Colômbia. Na semana passada, assumiu o comando da PF em São Paulo. "A PF está respondendo aos estímulos da sociedade, dentro das suas possibilidades e limitações ", declarou. Ele disse estar "impressionado, mas não assustado" com o desafio que tem pela frente. Apenas uma delegacia toca 3,4 mil investigações acerca de crimes financeiros, envolvendo investigados por lavagem de dinheiro, sonegação e evasão.

Araújo rejeitou o rótulo de polícia política para a PF. Ele afirmou que a instituição não é instrumento político do governo Lula. "A PF é técnica, somos a polícia do cidadão. Não vejo a PF como polícia política. As ações são muito mais positivas para a sociedade brasileira do que para o governo. O governo é passageiro, nós somos permanentes. Daqui a pouco haverá outro governo e nós continuaremos independentes."

Sobre críticas que a PF recebeu por operações como a realizada na Daslu, anotou: "Toda ação tem duas conotações, porque agrada a alguns e desagrada a outros." O mensalão? "Estou surpreso, ninguém esperava aquilo. Foi uma decepção para a população. "