Título: EUA dão apoio para comando brasileiro
Autor: Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Internacional, p. A12

BRASÍLIA - Os EUA deram ontem claro apoio à continuidade do Brasil no comando da força da ONU no Haiti. A posição foi expressada pelo subsecretário de Estado americano para a América Latina e o Caribe, Thomas Shannon, após encontro com o chanceler Celso Amorim no Itamaraty. ¿Estamos satisfeitos com a decisão do Brasil de continuar na liderança das operações no Haiti. Essa é uma iniciativa sumamente importante. O papel do Brasil no Haiti é a expressão da sua importante atuação nas Américas¿, disse Shannon, em claro português. ¿Brasil e EUA estão de acordo com a vinculação entre as questões de segurança no Haiti e as de desenvolvimento econômico e social.¿ Indagado sobre se a atuação do Brasil poderia credenciar o País em sua campanha por um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, Shannon engasgou, recuo um passo, riu e não respondeu. Ao deixar o Itamaraty, novamente indagado, limitou-se a dizer, em inglês, que não era assunto de sua competência.

Shannon ressaltou ainda que os EUA estão comprometidos com o governo haitiano, com a missão da ONU e com os países que ajudam no processo de desenvolvimento do Haiti. E expressou as condolências do governo de George W. Bush pela morte do general Urano Bacellar, afirmando que se tratava de um oficial de ¿altíssima categoria que teve um impacto sumamente importante no Haiti¿ no período em que lá serviu.

Outro tópico abordado por Shannon com Amorim foi a retomada da cooperação bilateral Washington-Brasília, desenhada durante a visita de Bush ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em novembro. Aos EUA não interessaria que essa relação voltasse à temperatura morna na qual foi mantida ao logo de três anos. À imprensa, Shannon insistiu que há ¿convergência profunda de interesses¿ dos EUA e do Brasil na consolidação democrática nas Américas, no desenvolvimento econômico e social da região e na manutenção da segurança.

A três dias da visita do presidente eleito da Bolívia, o líder cocaleiro Evo Morales, a Brasília, os rumos do governo boliviano consumiram boa parte do encontro. Shannon destacou que o processo de erradicação da cultura da coca na Bolívia continua relevante na agenda americana e Washington ¿vai dialogar cara a cara¿ sobre o assunto com o novo governo boliviano.