Título: Política externa está na mão de trio nacionalista
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2006, Nacional, p. B4

Amorim, Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia definem e comandam todas as iniciativas

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem falado com orgulho de sua política externa. Mas seus princípios nacionalistas, sua orientação para a cooperação com o mundo em desenvolvimento e sua obsessão com o aumento da expressão do País na órbita internacional saíram das cabeças de três homens. Direta ou indiretamente, são o chanceler Celso Amorim, o secretário-geral das Relações Exteriores, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que orquestram o dia-a-dia e definem estratégias. Ao se eleger, Lula trouxe Garcia, velho companheiro do PT e responsável pela ação internacional do partido. Escolheu Amorim, um dos diplomatas do grupo dos "barbudinhos" na década de 70. No dia da posse do governo, o chanceler anunciou a escolha de Pinheiro Guimarães, diplomata punido no governo anterior pelas posições radicalmente contrárias às negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Como resultado, essa tríade nacionalista montou uma política externa que atira para todos os lados - a África, a América do Sul, o mundo árabe, as Nações Unidas, a Índia e a China, os organismos internacionais - e que não dá passos conforme o tamanho das pernas. Conclusão: dificuldades para levar adiante todas as iniciativas..

Recentemente, Amorim não se vexou de pedir ao presidente, em discurso na formatura de novos diplomatas, mais recursos humanos e financeiros. No último dia 16, a Medida Provisória 269 permitiu a criação de 400 postos no Itamaraty, por meio de concursos. Também foi autorizada a reabertura de postos diplomáticos na África.

Na avaliação do embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), essa política externa é mais verborrágica que efetiva. "Falta bala na agulha. Se não é possível nem mesmo gastar em programas internos, como o governo vai sustentar uma política para a África?", observou. "Não se faz política externa sem dinheiro."