Título: Zapatista pede boicote às eleições presidenciais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Internacional, p. A14

Subcomandante Marcos diz que governo já lhe ofereceu o Ministério do Interior

O subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), assegurou que o governo mexicano lhe ofereceu em certa ocasião o cargo de ministro do Interior, oferta que rejeitou, pois, segundo ele, sua guerrilha não pretende ser governo. Marcos disse a um grupo de 200 pessoas na comunidade de Chiapa de Corzo, no Estado de Chiapas (sudeste do México) que a oferta foi feita em troca de um acordo de paz, mas não especificou quando.

O líder zapatista explicou que "nestes 12 anos já nos ofereceram de tudo e não aceitamos nada. Não temos automóveis, fazendas, nem sítios. Não temos sequer casa ou contas bancárias".

O subcomandante também criticou o candidato presidencial do Partido da Revolução Democrática (PRD, esquerda), o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador. "Ele não é de esquerda e está em volta de toda a equipe de Carlos Salinas de Gortari (presidente de 1988 a1994), declarou Marcos.

O líder zapatista também pediu ontem a seus seguidores que não votem nas eleições presidenciais de 2 de julho, pois, segundo ele, as eleições "não vão mudar nada".

Ele afirmou que os zapatistas respeitam as decisões de seus simpatizantes, mas lhes pediu que definam se participarão da via eleitoral ou se entrarão para "a outra campanha", liderada pelo EZLN para aglutinar as forças de esquerda e construir um programa nacional de luta.

Desde o dia 1.º Marcos deixou seu refúgio na selva Lacandona, no Estado de Chiapas, para realizar uma viagem de seis meses por todo o país e liderar o que chamou de "a outra campanha", que busca formar uma ampla frente de esquerda que se propõe a promover uma nova Constituição para o México.

Marcos, que deixou o cavalo para viajar de motocicleta ou de caminhonete, mantém sua máscara que o tornou célebre quando pegou em armas contra o governo há 12 anos para defender os direitos dos indígenas mexicanos. Marcos foi identificado pelas autoridades mexicanas em 1995 como o ex-professor universitário Rafael Sebastián Guillén, mas ele mesmo nunca revelou sua identidade.