Título: Não me passou pela cabeça brigar com o Gil, diz Ferreira Gullar
Autor: Beatriz Coelho Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Nacional, p. A7

Mas poeta continua atacando assessor do ministro, a quem acusa de ter criado problemas para o governo Lula

Se depender da maioria dos intelectuais envolvidos na querela com o secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Sérgio Sá Leitão, o caso se encerra em breve. Esta é a opinião do poeta Ferreira Gullar, pivô da questão, que recebeu solidariedade num manifesto assinado por personalidades como Fernanda Montenegro, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro e Caetano Veloso. "Estou surpreso que essa história dure tanto", comentou Gullar ontem. "Não me passou pela cabeça brigar pessoalmente com Gil (ministro da Cultura), que conheço desde sua chegada ao Rio, nos anos 60. Esse menino (Sá Leitão)não agiu com inteligência, pois criou mais um problema para o presidente Lula, que já está apanhando de todos os lados." Anteontem, irritado, o ministro Gilberto Gil reagiu à polêmica publicamente. "Peçam minha cabeça ao presidente", disse. E defendeu seu secretário de Políticas Culturais. "O que é que Sá Leitão fez de errado? O que ele fez em nome do ministério que não esteja de acordo com a orientação do ministério? Por que não pedem a minha cabeça em vez de pedir a dele?", provocou.

A querela começou com um comentário de Gullar, em sabatina no jornal Folha de S. Paulo, em 21 de dezembro, sobre as críticas que ouvia a respeito da gestão do músico Gilberto Gil como ministro. Sá Leitão tomou as dores de Gil e definiu o poeta como defensor "dos finados regimes stalinistas". Gullar replicou que a frase parecia saída do Serviço Nacional de Informação (SNI, órgão central de repressão da ditadura militar) e, segundo disse ao Estado, considerou o assunto encerrado.

Mas outros intelectuais fizeram manifesto em seu favor. Um abaixo-assinado de apoio ao poeta foi encaminhado no dia 30 de dezembro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Gil. Caetano Veloso foi além. Declarou-se publicamente preocupado com o "risco de totalitarismo".

Depois disso, o companheiro do movimento tropicalista de Gil fez novos comentários, assim como o escritor João Ubaldo Ribeiro. Já o cineasta Zelito Viana ressaltou que o assunto não deve "render mais", mas acrescentou que Sá Leitão errou ao tentar situar foco da querela no cinema. "Não é nada disso. O que não se concebe é um funcionário público ofender quem critica o governo", reclamou. "Ninguém tem direito de desqualificar outra pessoa só por uma opinião divergente. Nosso protesto é contra isso."