Título: Serra busca saídas contra ação de Alckmin
Autor: Ricardo Brandt, Ana Paula Scinocca e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Nacional, p. A6

A ofensiva deflagrada esta semana pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, atrapalhou os planos do prefeito José Serra de ser ungido pelo PSDB como candidato à Presidência da República. A estratégia de Serra, que leva vantagem sobre Alckmin nas pesquisas de intenção de voto, era ser aclamado pelo partido e, assim, minimizar o desgaste de deixar o comando da maior cidade do País no início do segundo ano de mandato.

¿O que o Serra esperava era um movimento do partido para ele, e não o contrário. Agora, com a postura de Alckmin, talvez ele tenha de rever sua posição¿, disse um tucano com acesso ao gabinete do prefeito.

Foi fechado no gabinete, aliás, que Serra passou o dia de ontem. Cancelou uma visita a ruas recentemente recapeadas pela prefeitura na região do Campo Limpo (zona sul da cidade) e gastou o tempo disparando telefonemas. ¿Por enquanto, ele está apenas recolhido em seus aposentos¿, disse o tucano, que dá como certo um contra-ataque de Serra nos próximos dias.

Nas últimas conversas com políticos de sua confiança, Serra tem demonstrado serenidade e considera que está maduro o suficiente para encarar as eleições de 2006. No entanto, ressalta que saiu de duas campanhas pesadas e, por isso, só poderá encarar uma nova missão com a adesão completa de seu partido.

A avaliação dos serristas é que sua candidatura não pode soar como um gesto voluntarista dele. ¿Com os compromissos assumidos na campanha, de que ele não deixaria a prefeitura para disputar a Presidência, vemos um risco na decisão de assumir publicamente que quer ser candidato¿, disse um interlocutor direto do prefeito.

Apesar de ele ter dito anteontem que não se sentia pressionado, aliados de Serra afirmaram que o anúncio feito por Alckmin, de que deixaria o governo do Estado para se dedicar à campanha, gerou um estresse dentro do partido, sobretudo no grupo ligado ao prefeito. O temor é que a disputa interna possa ser prejudicial ao PSDB no futuro.

¿A ofensiva do Alckmin foi forte, mas o Serra sabe que o que está em jogo não é apenas a questão pessoal, de querer ser o candidato¿, disse outra fonte próxima a Serra. ¿O prefeito sabe que não está disputando uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona. Por isso, não tem pressa¿, prosseguiu o tucano.

Preocupado com a decisão de Alckmin, um grupo de deputados tucanos passou as últimas 48 horas reunido, Em São Paulo, tendo à frente Juthay Júnior (BA), um dos principais interlocutores de Serra. A intenção do grupo é buscar um ambiente de cordialidade entre as duas faccões mas, ao mesmo tempo, fortalecer o movimento pró-Serra.