Título: Inflação em queda
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Notas e Informações, p. A3

Os últimos números da inflação trazem boas notícias não só sobre o ano passado, mas também, e principalmente, sobre as perspectivas de 2006. Os preços devem continuar evoluindo moderadamente, se não houver nenhuma grande surpresa nos próximos meses, e isso deixará maior espaço para a redução de juros e para a intensificação dos negócios. Essa expectativa foi reforçada, na quinta-feira, com a divulgação do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas. Com variação de apenas 0,07% em dezembro e 1,22% em 12 meses, esse indicador teve em 2005 o menor aumento desde a sua criação, em 1944. Esse dado tem importância especial para a avaliação do cenário em 2006. O IGP é um dos fatores principais para a correção de preços administrados, como os da telefonia e dos serviços de eletricidade. Esses preços, durante anos, cresceram muito mais do que aqueles fixados livremente pelo mercado. Seu aumento foi determinado, em boa parte, pela inflação passada, isto é, pela evolução do IGP, pois a indexação foi mantida, mesmo depois de lançado o Plano Real, para as tarifas de serviços de utilidade pública.

A contenção daquele indicador, em 2005, permite, portanto, projetar uma pressão muito menor que a dos últimos anos sobre as contas dos serviços básicos. Os preços administrados pesam cerca de 30% na composição do IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor - Amplo, usado pelo Banco Central (BC) como referência para a política de metas de inflação.

No ano passado, esse conjunto de preços e tarifas aumentou 8,38% até novembro, enquanto os preços livres subiram 4,02%. O aumento geral do IPCA, 5,31% em 11 meses, foi o resultado da soma ponderada dos dois conjuntos.

O BC projeta uma alta de 4,6% para os preços administrados em 2006, segundo o relatório trimestral de inflação divulgado em dezembro, antes, portanto, de conhecidos os números finais do ano.

Estão pressupostos nesse cálculo uma variação acumulada igual a zero para os preços da gasolina e do gás de botijão e aumentos de 4,2% para as tarifas de energia elétrica residencial e de 2,5% para as de telefonia fixa. Poderá haver surpresas, principalmente no caso dos combustíveis, mas isso depende mais de fatores externos do que da evolução dos indicadores nacionais de preços.

Em 2005, a evolução do IGP foi contida principalmente pela redução de seu principal componente, o Índice de Preços por Atacado (IPA), com peso de 60%. No ano, o IPA diminuiu 0,97%, enquanto os outros dois componentes, o Índice de Preços ao Consumidor e o Índice Nacional do Custo da Construção, variaram 4,93% e 6,84%.

A diminuição dos preços por atacado foi determinada principalmente pela valorização cambial, mas as condições do mercado internacional de matérias-primas agrícolas e de bens intermediários, como o aço, também contribuíram para a deflação.

Apesar da quebra da produção de alguns produtos agrícolas, ocasionada pela seca em áreas do Centro-Sul, a oferta de alimentos continuou mais que suficiente para a exportação e para o abastecimento interno. Graças à evolução moderada dos preços dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor medido pela Fipe, em São Paulo, aumentou apenas 4,53%, com a menor variação em cinco anos.

A agropecuária continua, portanto, a funcionar como poderosa âncora dos preços, contribuindo de forma decisiva para a melhora dos orçamentos familiares.

Se as perspectivas para 2006 se confirmarem, a evolução favorável do custo de vida contribuirá, mais uma vez, para a valorização do rendimento real dos trabalhadores e, portanto, para a expansão do consumo e da atividade econômica.

A inflação poderá continuar em queda, segundo as indicações atuais, mesmo com a redução dos juros e alguma desvalorização cambial, muito desejada pela maioria dos empresários envolvidos na competição internacional.

O governo dificilmente poderia esperar notícias mais animadoras em relação aos preços. E é apenas justo, neste momento, reconhecer o papel do Banco Central na formação de um cenário tão favorável. Ainda é possível discutir se houve ou não exagero na política de juros, mas não há como desconhecer o resultado obtido