Título: Itamaraty vê obstrução em venda à Venezuela
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Internacional, p. A15

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou ontem que o Itamaraty identificou indícios de que o governo dos EUA estaria mesmo obstruindo uma operação de venda de aviões militares Supertucano, fabricados pela Embraer, ao governo da Venezuela. Indagado sobre as acusações feitas anteontem pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, sobre essa tentativa de bloqueio de Washington, Amorim advertiu que a iniciativa seria contraproducente aos esforços do Brasil em melhorar o diálogo entre os EUA e a Venezuela.

¿Se nós procuramos melhorar o diálogo entre a Venezuela e os EUA, uma restrição desse tipo seria contraproducente até mesmo para esse nosso esforço¿, declarou. ¿Os aviões da Embraer, objetos dessa compra, são reconhecidamente de boa qualidade e não têm poder ofensivo que possa abalar a segurança da maior potência do mundo¿, acrescentou Amorim.

Anteontem, após encontrar-se com Amorim, o secretário-adjunto de Estado para América Latina e Caribe, Thomas Shannon, preferiu não comentar o assunto, ao ser abordado pela imprensa. Mas o tema foi tratado nas conversas que ele manteve no Itamaraty. Para o Brasil, a operação de venda de 24 Supertucanos às Forças Armadas da Venezuela (FAV) representa um negócio de US$ 230 milhões. Envolveria ainda a modernização de 18 Tucanos em uso pelas FAV. A operação teria o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Anteontem, ao denunciar o bloqueio americano, Chávez insinuou que buscará o fornecimento de aviões da China ou da Rússia. Os EUA têm se movimentado contra as iniciativas de Caracas para adquirir armamento no exterior, sob o pretexto de que a Venezuela poderia valer-se de suas forças militares melhor equipadas para promover ações desestabilizadoras na América do Sul.