Título: Palocci reage às críticas de Levy ao Banco Central
Autor: Adriana Fernandes, Beatriz Abreu
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

Nota `desautoriza e desaconselha¿ manifestações sobre temas fora da competência de cada um

Preocupado com os sinais de divisão na equipe econômica, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, emitiu nota oficial ontem em que ¿desautoriza e desaconselha¿ manifestações públicas de sua equipe sobre temas fora da competência de cada um. A nota foi em resposta às declarações atribuídas ao secretário do Tesouro, Joaquim Levy, nas quais critica a atuação e a forma de comunicação do Banco Central com o mercado financeiro e expõe ¿um certo desconforto¿ com os juros elevados. As declarações de Levy ao jornal Valor Econômico foram consideradas inoportunas e, mais uma vez, puseram o secretário em situação de constrangimento.

Ontem, voltaram os rumores de que Levy de, fato, está se preparando para sair do governo e teria aproveitado a oportunidade para marcar posição e reforçar suas críticas à diretoria do BC.

Em dezembro, Palocci e toda a assessoria do secretário foram surpreendidos com a notícia de que Levy teria aceitado um cargo no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na época, Levy confirmou o convite, mas disse que não aceitaria.

Na nota, o ministro Palocci afirma que ¿não há desconforto no Ministério da Fazenda com relação à política de juros praticada pelo Banco Central¿. Lembra que, por diversas vezes, tem manifestado publicamente ¿seu total apoio à política monetária¿. A última aconteceu esta semana, durante a solenidade de formalização do pagamento da dívida de US$ 15,5 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a participação do diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato. Na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Palocci elogiou a condução do BC.

A nota de Palocci teve tom mais duro do que o usual, ao optar pelo verbo ¿desautorizar¿ para dar um ¿cala-boca¿ na equipe e, particularmente, em Joaquim Levy. O ministro ficou irritado, segundo assessores, com as declarações de Levy que, indiretamente, revelam insatisfação da forma que o BC se comunica com o mercado.

Por isso, a preocupação de incluir na nota que considera apropriada não só a política de juros, mas também a comunicação pública sobre a mesma. ¿Esta é a posição do Ministério da Fazenda¿, diz o documento.

Palocci não quer que se repita na sua equipe o desgaste que ele próprio experimentou com o debate público sobre as divergências em relação à política fiscal com a ministra Dilma Rousseff.

Na entrevista ao Valor, Levy demonstra preocupação com o fato de os juros reais no Brasil ainda terem dois dígitos. Ele questiona o fato de o BC, nos seus comunicados, não explicitar os riscos que levam o mercado a projetar uma taxa real de mais de 10% daqui a um ano, se o próprio mercado considera que a inflação estará em 4,5%, concorda que a conta corrente do País com o exterior está superavitária e com o fato de que o superávit primário (economia para pagar os juros da dívida) esperado é o da meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB).

Levy foi acionado pela assessoria de Palocci para participar da elaboração da nota. ¿O secretário Levy esclareceu ao ministro Palocci que não expressou ao citado jornal opiniões sobre política monetária¿, diz o texto. O secretário passou a manhã de ontem em Brasília e, à tarde, foi para São Paulo, onde na segunda-feira anuncia a estratégia de financiamento da dívida pública para este ano.

Joaquim Levy é um dos secretários mais influentes do governo e já protagonizou outros embates com a diretoria do BC, principalmente com o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua.