Título: Morales muda a cúpula militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Internacional, p. A17

Dois dias depois de tomar posse, o presidente da Bolívia, Evo Morales, substituiu ontem a cúpula das Forças Armadas e da Polícia e prometeu combater a corrupção no meio policial. As nomeações provocaram críticas de oficiais preteridos a postos de comando por suspeita de envolvimento na entrega irregular de 28 mísseis chineses aos EUA, para sua destruição. Morales nomeou para comandante-chefe das Forças Armadas o general Wilfredo Vargas.

O caso dos mísseis levou o ex-presidente interino, Eduardo Rodríguez, que no domingo transmitiu o cargo a Morales, a mandar prematuramente para a reserva 28 generais que estão sendo investigados. A decisão alterou a ordem de promoções, o que causou descontentamento, segundo militares ouvidos pelas agências France Presse e Associated Press.

O chefe do Estado-Maior do Exército, general Marco Antonio Vázquez, que está sendo investigado no caso dos mísseis e a quem correspondia a sucessão no comando do Exército, protestou durante a cerimônia, qualificando de "injusta e incorreta" a designação de Vargas.

Morales explorou o c aso dos mísseis durante a campanha eleitoral, pelo fato de contrariar os interesses nacionais. A cerimônia de ontem foi o primeiro momento de tensão vivido por Morales. Entre as décadas de 60 e 80 os militares instalaram vários regimes ditatoriais na Bolívia, mas depois se mantiveram afastados da vida política. Analistas políticos ouvidos pela Reuters avaliaram que não há risco de insubordinação nas Forças Armadas por causa da decisão de Rodríguez e Morales, uma vez que a cúpula militar ficou bastante desprestigiada depois do episódio dos mísseis.

As mudanças na cúpula militar se somam a outras de forte impacto tomadas na segunda-feira, como a designação de um gabinete majoritariamente indígena e as nomeações do líder comunitário Abel Mamani para ministro das Águas e do esquerdista Andrés Soliz Rada para ministro dos Hidrocarbonetos.

Em entrevista ao jornal boliviano El Deber, Soliz Rada disse acreditar que não haverá um consenso com as empresas petrolíferas, como Petrobrás e Repsol, sobre as mudanças na Lei dos Hidrocarbonetos. "Haverá necessariamente uma nova norma. A lei atual é uma camisa de força que não nos deixa desenvolver políticas. Vamos propor reformas a artigos pontuais, que nos permitam atuar com mais força como governo", disse o ministro.

PETRÓLEO E GÁS

A estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, abriu ontem um escritório na Bolívia para atender aos acordos de cooperação energética firmados segunda-feira. Os dois países assinaram oito acordos, entre os quais um que prevê a entrega de 200 mil barris de diesel por mês em troca de produtos bolivianos.