Título: Médico do IML diz que Celso Daniel foi torturado
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Nacional, p. A8

O médico legista Paulo Vasques, do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, confirmou ontem que o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), seqüestrado e morto em janeiro de 2002, foi barbaramente torturado antes de ser assassinado, com oito tiros. A opinião foi expressada durante exibição, na CPI dos Bingos, de slides da necropsia de Daniel.

Vasques identificou marcas de coronhadas na cabeça do prefeito - que teriam sido desferidas no momento em que ele era retirado do carro. Além disso, Daniel foi atingido por oito disparos de uma pistola calibre 380 mm, no rosto, no tórax, nas mãos e nas pernas.

"O laudo aponta espasmo cadavérico de terror e fezes liquefeitas no intestino, sinais de queimadura na pele provocadas pelo cano aquecido da arma", disse o perito. Ele reforçou a tese de que o prefeito foi vítima de um crime de mando e assegurou que "as circunstâncias indicam incompatibilidade com crimes de seqüestro relâmpago ou latrocínio".

O legista lembrou que um laudo preliminar preparado pelo seu colega Carlos Delmonte, que morreu em outubro, já havia identificado sinais de tortura. No depoimento, Vasques também provou que a calça jeans que vestia Celso Daniel quando seu corpo foi encontrado foi posta depois de ele ser assassinado, porque não apresentava marcas de tiro. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) lembrou que os grampos feitos na ocasião mostram o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sombra - que chegou a ser preso como mandante do assassinato - orientando Ivone Santana, suposta namorada de Celso Daniel, sobre a troca das calças.

"Ele dizia que tinha conversado com Gilberto Carvalho sobre isso", afirmou o senador, referindo-se ao atual chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o senador José Jorge (PFL-PE), Carvalho e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) foram os principais integrantes de uma "operação abafa" executada por setores do PT para encerrar o caso o quanto antes. Álvaro Dias lembrou que o próprio presidente Lula insiste, ainda hoje, na tese de que o crime foi comum.

A CPI ouviu também os delegados encarregados do inquérito, segundo o qual o caso foi crime comum. "Até onde chegamos, o crime foi um seqüestro com a vitima errada', defendeu Edson Santi, do Departamento Estadual de Investigações Criminais de São Paulo (Deic). Ele disse que não tinha motivos para duvidar das declarações de um dos seqüestradores, Ivan Rodrigues da Silva, conhecido por Monstro. "Você sente quando o bandido está falando mentira ou a verdade,", alegou.