Título: Países não se acertam sobre salvaguardas
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

Os negociadores brasileiros e argentinos continuavam reunidos na noite de ontem, em Buenos Aires, na Secretaria de Indústria, discutindo a Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC). Segundo uma alta fonte da secretaria, os dois países estão com ¿severas¿ dificuldades em chegar a um entendimento para permitir a adoção automática de salvaguardas no comércio bilateral.

As diferenças marcadas desde o início das negociações giram em torno da definição do que sejam ¿danos¿ à indústria e de quem serão os negociadores de cada país. A distância entre os dois sócios sobre esses temas parece ser insuperável. A reunião de ontem não tinha hora para acabar. Na sexta-feira, brasileiros e argentinos voltam a se reunir, possivelmente, no Rio de Janeiro e não em Brasília.

Em meados de dezembro do ano passado, uma alta fonte do governo brasileiro comentou com o Estado sobre as dificuldades de se chegar a um acordo dentro do prazo estabelecido pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, de 31 de janeiro.

¿Negociação é negociação, e dura o tempo que for necessário para esclarecer todos os pontos¿ disse a fonte, naquela ocasião, deixando claro que a data para a assinatura do acordo poderia ser novamente adiada.

ACUSAÇÃO

No entanto, outra fonte ligada às negociações lembrou que como a polêmica não avança num sentido positivo, os presidentes Kirchner e Lula poderiam tomar uma nova decisão política para destravar as negociações.

Um dos negociadores argentinos comentou que a Argentina ¿não está disposta a tomar uma decisão que prejudique sua indústria pela má aplicação e regulamentação da Cláusula de Adaptação Competitiva¿, dando a entender que o país prefere demorar mais tempo nas negociações do que negociar um acordo ruim.

Esta fonte responsabilizou o Brasil pelo atraso. Segundo ela, o Brasil ¿está travando as discussões ao propor condições que não estavam sendo discutidas¿, numa alusão ao pedido brasileiro de que um representante do governo participe da comissão que defina a eventual aplicação da Cláusula de Adaptação Competitiva contra alguns dos produtos brasileiros.