Título: Lula diz ter a cara do povo e culpa rivais por atraso em seus programas
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2006, Nacional, p. A4

Em discurso, presidente cita iniciativas que não teriam avançado por falta de colaboração de Serra, Maia e Rosinha

Sob sol forte e gritos de "ão, ão, ão, queremos reeleição", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um ato público em Queimados, na Baixada Fluminense, para atacar os principais adversários, o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho (PMDB), e criticar o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL). Diante de cerca de 10 mil pessoas, disse que vários programas federais não avançaram mais por falta de colaboração das duas prefeituras e do governo do Rio, chefiado por Rosinha Garotinho (PMDB), mulher de Garotinho.

"Vocês sabem o que fizemos na indústria naval do Rio, mas tem gente que diz que não é nossa, é deles", criticou, sem citar o casal Garotinho. "Não vou ficar discutindo quem é o pai da criança, quero saber quem é que está cuidando da criança, quem é que está dando comida para a criança, quem é que está alimentando e educando essa criança." Lula reclamou que queria fazer os programas Farmácia Popular e Bolsa Família com o Estado e a prefeitura do Rio, mas não houve acordo.

O presidente rebateu as queixas do casal Garotinho, de falta de atenção com o Estado. "Sempre disse que mentira tem pernas curtas. O dinheiro que vem de Brasília para cá é 54% de tudo que o Estado do Rio arrecada. Duvido que em algum ano da história do Rio, ele tenha recebido essa quantidade de dinheiro." Rosinha não compareceu ao ato, que liberou R$ 100 milhões para o setor de saúde.

Sem citar Serra ou Maia, Lula os acusou pelos problemas do ProJovem, que dá bolsas a jovens de 17 a 24 anos para que retomem os estudos. "Algumas prefeituras não assumiram a totalidade das vagas. São Paulo teve 30 mil inscritos e não teve as vagas ocupadas, porque depende muito do trabalho da prefeitura. No Rio foram mais de 30 mil inscritos e só há 8 mil cursando, porque tem problema."

Lula afirmou que 2006 será um ano de "colheita muito grande", ao falar das realizações do governo. "É por isso que, de vez em quando, vocês vão ver algumas pessoas dizendo: 'Esse ato de Queimados é campanha eleitoral. A inauguração de uma estrada é campanha.' Se eu não fizesse era campanha para eles. Se faço, eles dizem que é para mim. Entre fazer para eles e fazer para mim, eu prefiro fazer para nós, aqui", ironizou.

MOBILIZAÇÃO

O ato foi montado pelo Ministério da Saúde e pelas prefeituras de Queimados, governada por Rogério do Salão (PL), e Nova Iguaçu, ao lado do esqueleto do Hospital Geral de Queimados, cujas obras estão paradas desde 1992. Segundo Rogério, o município gastou R$ 70 mil. O PT levou ônibus com militantes. O PC do B e políticos da região mobilizaram adeptos. A prefeitura fez propaganda do ato com carros de som e pelo rádio. Foi assim que o pintor Rogério Oliveira da Silva e o aposentado José Fernandes Nascimento souberam e resolveram participar.

Ligados a Garotinho, os prefeitos de Duque de Caxias, São João de Meriti, Seropédica, Japeri e Guapimirim não foram ao ato. Lula, aparentemente, não deu importância e, segundo pessoas próximas, estava animado. "Saio daqui feliz porque quando desci e me deparei com a fisionomia de vocês, eu disse a mim mesmo: essa é a minha gente, porque essa é a minha cara. A minha cara não é a cara da zona sul (do Rio), não é a cara da Avenida Paulista, a minha cara é a cara do povo sofrido deste país, que clama por justiça."

Em clima de comício, ele cumprimentou pessoas e posou para fotos com integrantes da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, antes de ir para Duque de Caxias, onde visitou o Inmetro (veja reportagem nesta página). Em seu discurso, Rogério do Salão exortou Lula a se candidatar à reeleição. "Não ceda, presidente. O povo precisa. Se o senhor abrir mão disso, nunca mais o povo terá a oportunidade de ter um representante seu conduzindo-o ao progresso."