Título: Novo marqueteiro do Planalto também usou paraísos fiscais
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2006, Nacional, p. A8

A exemplo de Duda Mendonça, seu ex-sócio e antecessor na função de marqueteiro informal do Palácio do Planalto, o publicitário João de Santana Filho - provável coordenador de comunicação da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - também já fez transações com doleiros em paraísos fiscais. O Ministério Público Federal rastreou US$ 528.815 em remessas feitas em seu nome para uma conta do BankBoston International para a conta da Agata International Holdings, operada por doleiros paulistas no banco americano MTB.

A companhia tem sede no paraíso fiscal de Tortola, Ilhas Virgens Britânicas. Segundo a Promotoria Distrital de Nova York, o MTB tornou-se nos últimos anos um dos grandes centros internacionais de lavagem de dinheiro. Como as investigações esbarraram em doleiros brasileiros, os dados do banco foram enviados ao Ministério Público.

Com base nos documentos, aos quais o Estado teve acesso, os procuradores brasileiros descobriram até agora cinco transações de João Santana, todas registradas nos anos de 1999 e 2000. As operações são idênticas às já rastreadas em nome de Duda e da sócia dele, Zilmar Fernandes da Silveira.

REMESSAS

No mesmo período, os dois também fizeram remessas de contas no BankBoston lá fora para a Agata Holdings. Na época das transações, Santana era sócio de ambos e coordenava a campanha de Eduardo Duhalde à Presidência da Argentina. Ele deixou as empresas em 2001.

Tido no mercado publicitário como competente e discreto, Santana ocupou nos últimos meses o vácuo deixado por Duda no Palácio do Planalto. Embora não tenha nenhum contrato com a Presidência da República, ele se reúne com freqüência com Lula e com o comando petista, com o objetivo de traçar as estratégias de marketing do último ano de governo e das eleições deste ano.

As operações de Santana com doleiros são um pouco mais modestas do que as de Duda e da sócia dele. No total, o ex-marqueteiro de Lula remeteu US$ 668 mil para a conta da Agata no MTB, também entre 1999 e 2000, por meio de oito transações. Zilmar, por sua vez, movimentou US$ 910 mil.

DATAS

As remessas de Santana rastreadas pelo Ministério Público aconteceram entre fevereiro de 1999 e junho de 2000, por meio da conta 61105870 no BankBoston americano. Peritos do MP suspeitam que eram transações para transferir dinheiro para o Brasil. Nos cálculos da PF, passou pela conta da Agata no MTB cerca de US$ 1 bilhão entre 1997 e 2003.

Procurado pelo Estado nos últimos dois dias, Santana preferiu não comentar as operações. Ele confidenciou a amigos, contudo, que quando era sócio de Duda não costumava se inteirar dos detalhes das transações das empresas. Como Duda, deixava esta tarefa a cargo de Zilmar Fernandes.