Título: 'Ingresso no grupo é questão de tempo'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

O ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma questão de tempo. Mas também é preciso saber se o País realmente quer entrar nesse clube que agrega 30 nações democráticas e com economias de mercado, entre as quais as mais ricas do mundo.

A observação partiu do canadense Donald Johnston, secretário-geral da organização desde 1996, que trabalhou nesses últimos dez anos a aproximação entre a OCDE e os chamados "países baleias", que formam a sigla BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China, considerados futuros atores determinantes no mercado mundial por manterem economias em transição, territórios amplos e enormes populações.

"O Brasil é um país muito próximo da OCDE. Mas a organização nunca enviou um convite a Brasília. (A adesão) É uma questão de tempo e também de saber se o Brasil realmente quer", afirmou Johnston ao Estado, acrescentando: "Eu promovi a aproximação (do grupo) com o BRIC. Um dia, do meu ponto de vista, todos eles deverão ser membros da organização".

Apesar de o Brasil preencher os requisitos para o ingresso na organização e ser encarado como um país que arrastaria outros a esse clube, o tema desperta divergências dentro do governo Lula.

Claramente favorável ao ingresso do Brasil na OCDE, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, debate-se com o Itamaraty, que prefere uma adesão gradual que levará muito anos para ser concluída.

CONTRADIÇÃO

O Ministério das Relações Exteriores mostra-se cioso com a suposta contradição entre a política externa do governo Lula, voltada para o estreitamento de relações com o mundo em desenvolvimento e a liderança desse agrupamento, e o acesso do Brasil a um "clube dos ricos".

Ao Ministério do Desenvolvimento alia-se o poderoso Ministério da Fazenda, que nos últimos encolheu sua influência sobre temas de política internacional.

"Ingressar na OCDE não é uma meta. Mas é importante. Seria um reconhecimento mundial de que o Brasil está no nível dos parceiros da OCDE", defendeu Furlan.

Johnston igualmente rebateu ao Estado a argumentação da diplomacia brasileira. Para ele, não há problemas em ser um líder do G-20 - o grupo de países em desenvolvimento que exige resultados ambiciosos nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) - e ser membro da OCDE. "Além disso, a OCDE não é mais um clube de ricos. Desde 1996 temos entre nós países como o México", afirmou.