Título: Novo grupo será três vezes o mercado nacional
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

Mittal-Arcelor poderá produzir 105 milhões de toneladas de aço/ano

A união histórica entre Mittal e Arcelor pode criar uma companhia seis vezes e meia maior que o Grupo Gerdau, a principal siderúrgica de capital brasileiro. A Gerdau é o 12º grupo siderúrgico mundial, com produção de 16,3 milhões de toneladas de aço bruto por ano, segundo dados do International Iron and Steel Institute (IISI).

A compra da Arcelor pela indiana Mittal criará uma megaprodutora de aço, com capacidade anual superior a 105 milhões de toneladas, cerca de três vezes a produção de todas as usinas siderúrgicas instaladas no Brasil.

Analistas são unânimes em dizer que o caráter superlativo desse negócio produzirá efeitos no mercado mundial e, em conseqüência, no Brasil. Embora ausente do País, a Mittal passaria a controlar a maior produtora individual de aço.

A Arcelor Brasil fabrica 10,5 milhões de toneladas anuais por meio das subsidiárias Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Belgo Mineira, Vega do Sul e Acesita - nesta tem participação, mas com a meta de assumir o controle integral. A Arcelor Brasil também controla a Acindar, da Argentina.

"Os efeitos dessa união no Brasil são indiretos. A Mittal não tem presença local, mas até agora as siderúrgicas brasileiras enfrentavam um concorrente (Arcelor) que produz 46 milhões de toneladas por ano no mundo. Passará a enfrentar um gigante que produzirá 100 milhões de toneladas por ano, 10% da produção mundial de aço", aponta Marcos José Barbieri Ferreira, pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Neit/IE/Unicamp).

Ferreira avalia que a oferta hostil da Mittal deverá ainda enfrentar a resistência de organismos de defesa da concorrência e dos governos europeus, principalmente da França.

Segundo o especialista em siderurgia, a fusão altera totalmente a forma de consolidação do setor em curso no mundo. "Se as siderúrgicas brasileiras tinham de correr atrás de associações e fusões, terão agora que acelerar essa busca", diz.

Germano Mendes de Paula, professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia, avalia que a inesperada oferta da Mittal muda o processo de consolidação, de regional para global. Ao Brasil, diz, sobra a dúvida sobre o que ocorrerá com a CST, usina quase integralmente voltada para a exportação.

"Em relação à Belgo, Vega do Sul ou a Acesita, não vejo grandes problemas. Mas o que a Mittal poderá fazer com a CST, grande produtora de aços planos, concorrente de outras fábricas da Mittal no mundo?"

VALE

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Roger Agnelli, classificou de "jogo de gigantes" a oferta da Mittal pela Arcelor. Agnelli acredita que em 2006 haverá mais fusões e aquisições na busca de custos menores e mais competitividade.