Título: No fundo, empresa indiana está de olho é na China
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

O aço pode estar migrando para o país que passa por boom industrial

O aço, que durante tanto tempo foi um ponto forte e quase hegemônico das economias européias e americana (Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos), estaria emigrando? O maior produtor siderúrgico do mundo é um grupo indiano, o Mittal, do bilionário britânico de origem indiana Lakshmi Mittal.

O Mittal produz 58 milhões de toneladas de aço anuais. Mas isso não lhe basta: ele fez uma oferta pública de compra hostil pelo segundo maior produtor mundial, o grupo luxemburguês Arcelor.

Assim, prossegue a profunda reestruturação do setor de aço em escala mundial. Nos últimos anos, viu-se uma multiplicação de ofertas de compra, cessões, reagrupamentos. Do lado europeu, três grupos se fundiram em 2002: o francês Usinor, o luxemburguês Arbed e o espanhol Acelaria, originando o segundo produtor mundial, Arcelor, com 50 milhões de toneladas de aço anuais.

Mas o Arcelor continuou se expandindo. Neste momento, ele pretende abocanhar o grupo canadense Dofasco. Mas eis que surge, de repente, o indiano Mittal, que por sua vez quer pôr as mãos no Arcelor. Se a oferta de compra do Mittal se concretizar, o grupo indiano produzirá 20% do aço mundial, aproximadamente 108 milhões de toneladas de aço anuais. Atrás dele se perfilam vários grupos, contudo menos poderosos, entre eles o japonês Nippon Steel, de 30 milhões de toneladas.

Esta nova repartição das capacidades siderúrgicas do planeta é eloqüente. Ela indica que um novo pólo econômico está se constituindo na Ásia. Isso lembra, sobretudo, que o perigo não vem apenas da China.

A Índia, bem mais discreta que a China, e dando menos motivos para especulações, também está conseguindo resultados surpreendentes.

Mas a China não está ausente desse campo da siderurgia. É em razão do "boom" industrial da China que a demanda de aço está prestes a explodir, aumentando o apetite das indústrias siderúrgicas. É por essa mesma razão também que o Mittal quer se estabelecer na própria China: a empresa indiana está mantendo entendimentos com o grupo chinês Baotu Iron and Steel. O Mittal provavelmente vai adquirir 49% do grupo chinês, pois uma lei chinesa impede que estrangeiros tenham uma posição de controle nas empresas siderúrgicas locais.