Título: 'Pacote de bondades' de Lula já soma previsão de gasto de R$ 7,7 bi
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Nacional, p. A4

Valor deve aumentar com medidas para área de habitação, com crédito de R$ 8,5 bi para classe média

As principais "bondades políticas" anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos 30 dias já representam uma previsão de gastos de cerca de R$ 7,76 bilhões. Classificadas pelos partidos de oposição como eleitorais, as medidas tomadas por Lula incluem o aumento do salário mínimo, o reajuste da tabela do Imposto de Renda, a operação tapa-buraco, além de convênios para construir e aparelhar hospitais e também para levar energia elétrica às regiões mais pobres.

Esse valor deve aumentar ainda mais nas próximas semanas com o anúncio de um pacote para a área de habitação, com abertura de linhas de crédito de R$ 8,5 bilhões, para atingir a classe média - segmento que foi um dos principais pontos fracos do PT nas campanhas municipais de 2004. Outro pacote nesse setor, com foco nas camadas mais populares, também está sendo estudado e pode ultrapassar R$ 6,75 bilhões.

Acusado pelos adversários de usar essas "bondades" para fazer campanha pela própria reeleição, Lula tem ocupado todos os espaços políticos possíveis para divulgar suas ações. Mesmo sem assumir a candidatura, o presidente, nesse mesmo período, já fez dez discursos, um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, além de passar por sete Estados diferentes. Prepara novas viagens e estuda até mesmo outro pronunciamento em rede nacional para falar do aumento do salário mínimo.

O aumento do mínimo de R$ 300 para R$ 350, a partir de abril, beneficia diretamente cerca de 40 milhões de pessoas, incluindo 16 milhões de aposentados e pensionistas da Previdência. Com o reajuste de 8% na tabela do IR, a partir de fevereiro, todos os trabalhadores que recebam até R$ 1.257 ficarão isentos de recolhimento na fonte.

EFEITOS

Nos últimos dias, Lula tem procurado capitalizar os efeitos das medidas anunciadas. "Eu não sei se vocês perceberam, aqui foi assinado dinheiro de mais de R$ 300 milhões", ressaltou em discurso no Acre, no dia 21, durante lançamento do Projeto Modelo de Assentamento Agroflorestal. "E cada ligação de energia que nós fazemos aqui - isso é importante que os companheiros da imprensa registrem - cada ligação que nós fizemos aqui está custando mais de R$ 3,6 mil a ligação e é financiada pelo governo. E o povo não paga nada. Nosso compromisso é de garantir que os 12 milhões de brasileiros que não têm energia elétrica vão ter energia elétrica e não vão pagar."

O mesmo tom já tinha sido usado, por exemplo, em sua passagem pela Baixada Fluminense, quando anunciou a liberação de recursos para a retomada das obras do Hospital de Queimados, no dia 20.

"É por isso que temos 8 milhões e 700 mil famílias recebendo o Bolsa Família. É pouco? É pouco, mas estamos dando à família o direito de comprar a ração básica. É por isso que eu vi na televisão, esses dias, um saco de cimento está a R$ 8 hoje. Quando eu tomei posse estava R$ 22,50 e está R$ 8 hoje", disse.

O presidente também aproveitou o mesmo evento para comemorar a redução de outros preços e cutucar os tucanos. "É por isso que as donas de casa estão comprando sacos de arroz de 5 quilos, que custavam R$ 13, por R$ 4,80 ou por R$ 5,20. Porque as coisas demoram para ser consertadas. A casa estava desarrumada. As coisas estavam encrencadas", disse, numa referência indireta ao governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Longe de se incomodar com as críticas da oposição, que o acusa de usar seus recentes périplos pelo País para fazer campanha eleitoral, Lula já avisou que não interromperá suas viagens por causa dessas queixas. "Acho que os adversários querem que eu defina logo que sou candidato, porque aí eles querem me proibir de viajar o Brasil, como estou viajando.", afirmou Lula, no Acre. "Até junho, meus adversários vão ficar zangados. Mas eu não estou candidato. Até junho, eu sou presidente da República para governar este país e inaugurar as coisas que temos de inaugurar", acrescentou.