Título: Bolsa bate recorde de negócios
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não pára de bater recordes. Além da pontuação, acima dos 38 mil, a Bolsa paulista também atingiu nível histórico em movimentação financeira. Levantamento da Economática mostra que o volume mensal do mercado à vista em janeiro atingiu o maior valor da história da Bovespa, R$ 41,6 bilhões, bem superior à marca de R$ 37,2 bilhões de julho de 1997, até então o maior volume.

No pregão de ontem, a bolsa subiu 0,27% para 38.484 pontos. Com isso, a valorização do mercado acionário em 2006 subiu para 15,03%. No período de um ano, a alta soma 59,36%, números bastante animadores. Por todos os ângulos, o desempenho da Bovespa nos últimos meses é espetacular. "E a tendência é de continuidade. Nossa percepção para a Bolsa é muito positiva", avalia o economista da Corretora Ágora Senior, Flávio Serrano.

Motivos não faltam para explicar números tão expressivos. O primeiro deles, no entanto, mostra que esse movimento não é privilégio apenas do Brasil. Com o bom humor e a alta liquidez do cenário internacional, os países emergentes estão rindo à toa. O Índice Merval, da Argentina, subiu 12,73% neste começo de ano e 26,68% no período de um ano.

No Brasil, além do mercado externo favorável, os fundamentos econômicos têm contribuído para o "boom" do mercado acionário. A inflação está controlada, os juros tendem a cair no médio e curto prazos e a balança comercial tem apresentado números satisfatórios, afirma Serrano.

Tudo isso, aliado ao apetite dos investidores estrangeiros, tem contribuído para a redução do risco país, que ontem estava em 262 pontos, um dos menores da história.

De olho na melhora dos números, os estrangeiros decidiram apostar no Brasil para terem um retorno diferenciado, já que os juros americanos e europeus estão em níveis baixos. Até 27 de janeiro, a entrada líquida de capital estrangeiro na Bolsa paulista somava R$ 2,28 bilhões, resultado de compras no valor de R$ 15,33 bilhões e vendas de R$ 13,04 bilhões, segundo o último boletim da Bovespa. A participação dos estrangeiros na Bolsa subiu para 34,7%, ante 33,2% em dezembro de 2005.

Para Serrano, as perspectivas de crescimento econômico mais robusto neste ano devem manter o bom resultado do mercado acionário. Isso porque com crescimento maior, as empresas tendem a registrar lucros mais expressivos, o que se reflete no preço das ações.

Mas o administrador de investimentos Fábio Colombo alerta os investidores para alguns cuidados a serem tomados neste mercado. Ele lembra que quanto mais baixo o nível da Bolsa, maior é o potencial de ganho. Como a Bovespa está em alta há algum tempo, as possibilidades de ganho tendem a ser menores.

Ele recomenda aos investidores que não têm muito dinheiro que entrem num fundo de investimento. "Nesse caso, além de o banco escolher os melhores papéis para comprar, o investidor não estará colocando dinheiro numa única ação."

O ideal é aplicar em 10 ou 15 ações que representem vários setores da economia. "Assim, você diversifica a aplicação. Mas o mais importante é ter uma visão de longo prazo. Não adianta comprar uma ação e ficar desesperado a cada movimento diário", diz Colombo.

ECONOMÁTICA

Nos últimos 12 meses, a ação mais valorizada foi a da Rossi Residencial, um papel com liquidez média, que subiu 460,2%. Entre as ações com elevada liquidez (muito negociadas), estão os papéis do Bradesco, com alta de 212,3% (ordinárias) e 178,6% (preferenciais). Em seguida vêm Unibanco (156%), TIM Participações (142,1%) e Lojas Americanas (129,7%). A valorização da Petrobrás foi de 101,2% e do Itaú, 107,6%. Entre as maiores quedas estão a Braskem, com 39,3%, e Light, 39,6%.