Título: Fãs vêm da periferia e do interior atrás do RBD
Autor: Alessandra Pereyra
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Metrópole, p. C1,3

Grupo que foi ao SBT ontem era amostra de quem curte banda: 'A gente quer se vestir como eles, mas dinheiro dos nossos pais não dá', disse garota

Você nunca tinha ouvido falar em RBD? Nenhum conhecido seu tem um CD do sexteto mexicano? Como um grupo assim tão "desconhecido" pôde levar 20 mil pessoas para um estacionamento em Interlagos, na zona sul? Quem são esses fãs? De onde saíram? As respostas para essas perguntas estavam, ontem, fritando embaixo do sol, na entrada do SBT.

No km 18 da Via Anhangüera, pelo menos 70 fãs do RBD se aglomeravam, um dia depois da tragédia numa sessão de autógrafos do grupo, que deixou 3 mortos e 42 feridos. Ao serem barrados na entrada da emissora, os adolescentes, que aguardavam a chegada do grupo para uma apresentação no programa Domingo Legal (que não ocorreu), se sentiram traídos pelo dono da emissora, Silvio Santos. O fato de muitos fãs do RBD serem netos e netas das famosas "colegas de trabalho" do Homem do Baú foi o que causou tamanha revolta. "Só está entrando carrão. Os humildes vão ficar de fora, os clientes do baú vão se barrados. Minha avó só assiste a esse canal", dizia uma garota de 13 anos.

Definitivamente, não são os filhos da classe média os maiores seguidores do grupo. Seus fãs são como Jesus Francisco, de 14 anos. Ele juntou R$ 30,00 e pegou um ônibus em Bragança Paulista, interior, para tentar entregar uma carta ao apresentador Gugu Liberato e ver seus ídolos. Como saiu de casa sozinho, levava um papel com dicas para chegar à TV. "Não sei como vou voltar. Faltam R$ 4,00 para o ônibus."

Perto dele, Maria Edna da Silva, de 19, levava uma menina de 1 mês no colo. "Vim de Ourinhos. Foram 12 horas de ônibus. Aluguei um quartinho em Osasco para passar um dia. Na minha cidade, tenho um grupo cover do RBD. Minha filhinha já gosta deles também", contou.

O fã brasileiro do RBD tem entre 6 e 19 anos, mora no interior ou na periferia da cidade. São jovens cuja única opção de lazer é a TV. "Onde moro não tem outra coisa pra fazer, não", disse um menino.

Eles são capazes de amar o É o Tchan e os Racionais MC's da mesma forma. Como não têm dinheiro para se vestir como os ídolos mexicanos, tentam imitá-los com peças baratas, descaradamente piratas. "A gente tenta se vestir como eles, mas o dinheiro do nossos pais não dá", disse Larissa Lima, de 14 anos.

A identificação com o RBD é facilitada pelo fato de os personagens da novela Rebelde - exibida no Brasil pelo SBT, ela deu origem ao grupo - terem características bem definidas. Uma é romântica; outra, louquinha; outro, aventureiro etc. Na porta da emissora, cada fã dizia ter uma dessas características. "São como a gente", afirmou um deles. Tornar-se artista de TV é o sonho da maioria. Para os fãs do RBD, estar na Malhação (novelinha adolescente da Globo) ou no Gugu seria o ápice de uma carreira.

O único momento de tensão no SBT, ontem, foi quando alguns jovens lembraram não da tragédia, mas do primeiro episódio da novela. Segundo eles, o RBD nasceu da invasão de estudantes a uma TV. "Trancaram o apresentador num armário e conseguiram cantar no programa. Podemos fazer o mesmo", disse Jonathan, de 16.