Título: Celular revela uso de 'laranja'
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Nacional, p. A4

Motorista emprestou nome para esquema em Ribeirão Entre abril de 2003 e janeiro de 2004 Ademirson Ariosvaldo da Silva, assessor particular do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, telefonou 237 vezes para dois celulares registrados em nome de um "laranja". Os aparelhos também foram usados para receber e fazer ligações para outros integrantes da chamada República de Ribeirão Preto, como Vladimir Poleto e Ralf Barquete, ex-auxiliares de Palocci. Há registro de conversas com a "promotora de eventos" Jeany Mary Córner, com funcionários da empreiteira Leão Leão e com outras pessoas investigadas pela CPI dos Bingos.

Essas informações foram obtidas após a quebra do sigilo telefônico do motorista Francisco das Chagas Costa e complementam o que ele já tinha dito à Polícia Federal. O motorista disse ter fornecido seus documentos para a habilitação dos dois celulares, a pedido de Poleto.

A quebra do sigilo expôs a comunicação entre os envolvidos em diferentes denúncias, tais como a da tentativa de extorsão na renovação do contrato das loterias da Caixa Econômica Federal com a multinacional Gtech e a do esquema de superfaturamento de contratos presumivelmente montado em Ribeirão Preto nos tempos em que Palocci era prefeito.

Entre abril e dezembro de 2003 foram feitas 40 ligações da Leão Leão, onde Buratti trabalhava, para os telefones em nome de Francisco. O celular da Presidência da República usado por Ademirson - e por meio do qual o advogado Buratti também falava com Palocci - recebeu 107 ligações feitas pelos dois números, entre 26 de abril e 19 de dezembro de 2003. Jeany Mary ligou 27 vezes entre 19 de agosto de 2003 e 1º de fevereiro de 2004. Recebeu de volta 30 ligações entre junho e setembro de 2003.

O economista Poleto é o recordista das chamadas feitas nos telefones do "laranja". Recebeu 239 ligações de 6 de maio a 9 de janeiro de 2004 e ligou para os números 115 vezes entre abril e dezembro de 2003.

Dos telefones em nome de Francisco saíram 56 ligações, entre maio e agosto de 2003, para o Serviço de Processamento de Dados (Serpro). É ali que trabalha Donizetti Rosa, ex-secretário de Palocci em Ribeirão e marido de Isabel Bordini, acusada de atuar no esquema de superfaturamento de contratos em favor da Leão Leão.