Título: Decisão sobre TV digital fica para depois do carnaval
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Economia & Negócios, p. B9

A decisão sobre o padrão de TV digital a ser adotado no Brasil ficou mesmo para depois do Carnaval. Ontem, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que serão necessários pelo menos mais 20 dias para que o governo estude as propostas oferecidas pelos japoneses, americanos e europeus e faça sua escolha.

Embora as discussões ainda não estejam concluídas, está cada vez mais forte a tendência de a escolha do governo recair no modelo japonês, que conta com o apoio de Hélio Costa e é também defendido pela TV Globo. "Infelizmente, vamos ter de adiar pelo menos por 20 ou 30 dias a decisão final. Até porque nós ainda temos o carnaval no meio do caminho, e a viagem do presidente", disse Costa referindo-se à ida de Lula à África, onde fica até domingo.

O debate em torno do modelo de TV Digital ganhará novos ingredientes hoje durante a reunião no plenário da Câmara com representantes das emissoras de TV, da indústria de televisores, das empresas de telefonia e da sociedade civil. O debate permitirá aos deputados se posicionarem em relação a uma questão não menos polêmica. Eles querem deixar claro que a definição do modelo deve ser acompanhada do detalhamento sobre como será a participação da indústria nacional na fabricação de televisores. "O importante não é só definir a carcaça do carro. Se for o japonês, tudo bem. Mas e os componentes desse carro, serão também japoneses? Qual será a fatia da indústria nacional?", questiona um parlamentar.

Os deputados também estão preocupados em garantir mercado para os softwares que estão sendo desenvolvidos no Brasil e que permitem a utilização da TV em funções próprias da internet, como acesso a e-mail.

A preferência pelo modelo japonês é explicada com o argumento de que atende às exigências do governo e apresenta vantagens tecnológicas sobre os demais. O interesse das emissoras de TV - exceto Bandeirantes - no padrão adotado no Japão está diretamente ligado à possibilidade de eliminar a interferência das empresas de telecomunicações na transmissão de conteúdos por meio de aparelhos celulares. E, exatamente por isso, as empresas de telefonia, que defendem a adoção do padrão europeu, não se dão por vencidas. Amanhã, os presidentes das operadoras apresentam à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, um documento com considerações sobre os três padrões.

Ontem, os representantes do padrão americano apresentaram ao governo as características do seu modelo e afirmaram que até julho têm condições de fazer a portabilidade (recepção de sinais em aparelhos portáteis, como telefones celulares) e a mobilidade (recepção de sinais em movimento, como numa tevê instalada em um automóvel).

Com a apresentação dos americanos, o governo brasileiro já tem em mãos as informações sobre os três padrões para tomar sua decisão.