Título: Protesto contra a absolvição de Ubiratan
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Metrópole, p. C1

Cartazes, cruzes, padres, parlamentares, advogados, moradores de rua e até um bispo lotaram as escadarias da Catedral da Sé ontem para protestar contra a absolvição do coronel Ubiratan Guimarães, inocentado na semana passada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo da acusação de matar 102 dos 111 presos assassinados em 1992 no massacre do Carandiru. O ato durou quase três horas e só terminou depois que a presidência do TJ aceitou receber uma comissão formada por representantes das entidades de direitos humanos, parlamentares e religiosos. Cerca de 600 pessoas participaram do protesto.

Tudo foi conduzido pelo padre Julio Lancellotti, que fez cartazes carregados em procissão até o TJ com os nomes dos 111 mortos. O padre seguia uma cruz de 2 metros de altura levada por um morador de rua.

Diante do tribunal, quem carregava cartaz se deitou no chão e lá foi o senador Eduardo Suplicy (PT) desempenhar o papel de morto com outros manifestantes. Ele se deitou de braços abertos, virou o rosto para a esquerda e fechou os olhos.

"A Igreja não tem partido político, mas não abre mão de sua dimensão social, que faz parte do trabalho evangelizador", disse d. Pedro Luis Stringhini, bispo-auxiliar de São Paulo. Para ele, é importante que a população esteja atenta, a fim de que a impunidade não prevaleça. O bispo afirmou ainda ser solidário aos policiais quando eles sofrem violência. "Eles também são conclamados a lutar pela paz e pela dignidade humana."

O padre Valdir João anunciou que a Pastoral Carcerária vai fazer atos iguais em todo o País. "Recentemente fomos proibidos de entrar nos centros de detenção mantidos pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo porque temem a nossa atuação em busca da verdade e da Justiça", disse.

O procurador de Justiça aposentado Hélio Bicudo disse esperar que os tribunais superiores (Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal) modifiquem a decisão do TJ. O problema, segundo ele, é o tempo que será gasto para isso. "Até lá, o réu poderá se ver livre pela prescrição do processo", disse Bicudo.

O TJ decidiu absolver o coronel porque entendeu que essa havia sido de fato a vontade dos jurados que o julgaram em 2001. De acordo com os desembargadores do TJ, a vontade do júri foi mal interpretada pela juíza Maria Cristina Cotrofe, responsável pela sentença que condenava Ubiratan a 632 anos de prisão.

Os manifestantes reclamaram ainda da falta de punição dos assassinos de 7 moradores de rua em agosto de 2004, no centro.