Título: Haniye é indicado primeiro-ministro
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2006, Internacional, p. A8

Israel reage a controle da AP pelo Hamas impondo série de sanções, incluindo o fim do repasse de impostos

Um dia depois da posse do novo Parlamento palestino, agora dominado pelo Hamas, o grupo radical indicou ontem oficialmente o nome de Ismail Haniye para o cargo de primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP). O anúncio foi feito através de um comunicado e não pegou ninguém de surpresa. Haniye, de 43 anos, é considerado pragmático e carismático. Muitos o consideram o principal responsável pela esmagadora vitória do Hamas nas eleições legislativas de 25 de janeiro.

"Rezo a Deus que me ajude a arcar com a responsabilidade e servir à causa palestina", disse Haniye em entrevista coletiva na Cidade de Gaza.

Nos bastidores, no entanto, a indicação de Haniye não parecia tão certa assim. Isso porque o Hamas tentou, até última hora, conseguir a adesão da Fatah, o derrotado partido rival, para a formação de um governo de união nacional que fosse melhor recebido por Israel e pela comunidade internacional. A idéia era nomear um primeiro-ministro da Fatah, o que diminuiria a pressão sobre a AP. O Hamas ficaria responsável por ministérios "sociais", como os de Saúde e Educação.

Mas com o juramento e posse do novo Parlamento, ficou claro que a Fatah prefere fazer o papel de oposição, na tentativa de recuperar a força perdida caso o governo do Hamas falhe.

Com a indicação oficial de Haniye, só falta agora que o presidente palestino, Mahmud Abbas, encarregue oficialmente o líder do Hamas de criar o próximo gabinete palestino. Isso deve acontecer hoje, no primeiro encontro oficial de Abbas com Haniye na Cidade de Gaza. O prazo para a formação do novo governo será de três semanas. Depois disso, Abbas ainda terá de aprovar os nomes de todos os ministros apontados.

SANÇÕES ISRAELENSES

Antes mesmo da formação e aprovação do novo governo palestino, o primeiro-ministro interino israelense Ehud Olmert anunciou ontem uma série de sanções econômicas em reação à ascensão do Hamas ao poder.

"Do nosso ponto de vista, o juramento do novo Parlamento significa que, em realidade, o Hamas tomou o controle da Autoridade Palestina. Isso torna a AP uma entidade terrorista", afirmou Olmert durante reunião de gabinete, em Jerusalém, na qual as sanções foram aprovadas.

Entre as medidas está a suspensão imediata da transferência de fundos de Israel para a AP, o que inclui os mais de US$ 50 milhões em impostos palestino recolhidos todos os meses por Israel. O dinheiro é usado no pagamento dos salários dos cerca de 140 mil funcionários públicos palestinos, metade deles policiais. Também foi aprovada a suspensão dos contatos entre as forças de segurança israelenses e palestinas. Outra medida tomada foi a restrição da passagem de parlamentares eleitos do Hamas de Gaza para Cisjordânia, além da intensificação da vistoria de palestinos nos postos de controle israelenses.

Segundo Olmert, as medidas ficarão em vigor até que o Hamas aceite três condições: reconhecimento do Estado de Israel e anulação da cláusula que prega sua destruição; desmantelamento de infra-estruturas terroristas; e reconhecimento de todos os acordos prévios firmados pela AP, incluindo o plano Mapa da Estrada.

CRISE FINANCEIRA

O presidente palestino criticou a decisão de Olmert e disse que ela coloca a AP em uma crise financeira. "Infelizmente, as pressões já começaram e a ajuda internacional já começou a diminuir. Isso quer dizer que estamos em crise financeira", disse Abbas (ler abaixo).

Já Haniye respondeu afirmando que nem o Hamas nem o povo palestinos têm medo de sanções. "Essas medidas têm como objetivo colocar os palestinos de joelhos. Mas nós já enfrentamos muitos obstáculos no passado e vamos passar por mais esse", disse o futuro primeiro-ministro.

Na Cisjordânia, soldados israelenses mataram dois palestinos, apontados como militantes radicais, em meio a uma incursão militar no campo de refugiados de Balata. Já na Faixa de Gaza, a Força Aérea israelense matou mais dois palestinos perto da fronteira com Israel. Eles estariam, segundo o Exército, plantando bombas perto do posto de fronteira de Kissufim, no sul da região.