Título: Jovem se mata em blitz antipedofilia
Autor: Alexandre Rodrigues e Felipe Werneck
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Metrópole, p. C1

O jovem V.N.P.L., de 17 anos, morreu ontem ao se jogar da janela do quarto, no 6º andar, logo após a chegada de quatro agentes da Polícia Federal ao apartamento de sua família, no Maracanã, zona norte. A PF cumpria mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça numa ação internacional contra pedofilia na internet. Foram cumpridos dez mandados no Rio, como parte da Operação Azahar, que identificou 140 alvos em 25 países - 34 no Brasil.

Quatro pessoas estavam no apartamento do Maracanã quando a PF chegou - V., o pai, a mãe e a irmã. Havia três computadores no imóvel. Enquanto um delegado e um perito vistoriavam o do pai, o rapaz entrou no quarto e fechou a porta. A irmã de V., estudante de Direito, também foi ao quarto dela buscar um livro.

Um escrivão da PF, segundo relato oficial, disse à mãe que os filhos não poderiam deixar a sala e informou que não havia mandado de prisão contra nenhum deles. Segundo a PF, um policial pediu à mãe que chamasse o filho, por causa do risco de destruição de provas. Quando ela entrou, V. já tinha se jogado. Vizinhos gritaram. O rapaz caiu no estacionamento do prédio. Um morador do 1º andar, enfermeiro, tentou socorrê-lo. Peritos da Polícia Civil foram chamados. A família não quis falar com os jornalistas.

Os policiais não encontraram nada suspeito nos computadores da irmã e do pai. O do jovem foi apreendido. No fim da tarde, o superintendente da PF no Rio, José Milton Rodrigues, afirmou que havia imagens de pornografia com menores de 14 anos e a perícia identificou registros de recebimento e transmissão delas no micro.

Rodrigues mandou abrir inquérito sobre eventuais falhas na operação. "Foi um fato chocante, inesperado. Quando a PF entrou no quarto, ele já havia saltado pela janela", disse. "Tudo leva a crer que se trata de suicídio. Se houve falha, isso será apurado no inquérito."

O porteiro e o zelador do prédio foram levados por policiais ao apartamento como testemnhas da operação. Eles também não quiseram dar entrevistas.

Rodrigues disse não ter "elementos suficientes para pedir a prisão de qualquer dos acusados" no Rio. A PF informou que, agora, com a análise do material apreendido, eventualmente haverá pedidos de prisão.

Cauteloso sobre a versão da PF, o criminalista Arthur Lavigne disse que é preciso conhecer o relato da família de V. "A polícia estaria cumprindo ordem judicial de apreender certo material descrito no mandado. Até aí não há irregularidade nenhuma. Pela versão da polícia, não houve excesso, mas é preciso ouvir a família", disse Lavigne.

No edifício, poucos disseram conhecer V. Os pais, segundo os vizinhos, vivem lá há dez anos. Um amigo da irmã contou que o rapaz era reservado, mas não tinha comportamento anormal. O casal Josivam Pereira e Luiza Tavares de Souza, que mora no 1º andar, contou que V. era sociável. "Ele tinha um cachorrinho, que morreu recentemente, e brincava com o meu. Todos da família são muito educados", disse Luiza.