Título: Empresário diz na CPI que PT exigia propina em Santo André
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Nacional, p. A11

Em depoimento à CPI dos Bingos, o empresário João Antonio Setti Braga disse ontem que os donos de empresas de ônibus que operavam em Santo André na gestão do prefeito Celso Daniel eram obrigados a pagar propina ao então secretário de Administração, Klinger Luiz de Oliveira. Ele afirmou que no período em que foi um dos seis sócios da Expresso Nova Santo André, de julho de 1997 a abril de 2000, a empresa era obrigada a contribuir com mais da metade dos R$ 100 mil que eram entregues pelas concessionárias a Klinger por intermédio de outro cotista, o empresário Ronan Maria Pinto.

"A propina mensal, que classifico de uma autêntica extorsão, era considerada um custo político para a gente trabalhar sossegado", declarou o empresário. Quanto aos R$ 100 mil, disse ter sido avisado que era o sistema da cidade. "As outras empresas tinham também de fazer este caixa."

Por meio dos advogados, Klinger e Ronan negam que havia esquema de propina.

Braga disse que se desfez de suas cotas, correspondentes a 25% do total da sociedade, pelo valor de R$ 1 depois que Klinger passou a retaliar a empresa, cortando mais da metade das linhas que operava.

"O que a empresa valia, ela devia. Pulverizei as cotas e resolvi sair do negócio. Como nossa empresa era familiar, minha irmã queria doar as cotas aos pobres. Ela dizia que com 'este pessoal eu não fico mais'", contou. Segundo o empresário, a retaliação começou quando ele e outro cotista, Luiz Alberto Gabrilli, pediram uma auditoria na Nova Santo André.

Braga disse que tentou falar com Celso Daniel, de quem tinha sido colega no ginásio, mas não conseguia nem por telefone. "Ele estava blindado. Tentei na prefeitura e por amigos, mas Celso ficava pouco em Santo André e um dos que tinham carta branca para agir era o Klinger." Suas informações sobre a extorsão confirmam o que já foi revelado à comissão pelas irmãs Mara e Rosângela Gabrilli, que denunciou o esquema ao Ministério Público seis dias depois do assassinato de Celso Daniel, em janeiro de 2002.

ASSASSINATO

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) descartou ontem que o assassinato do agente funerário Iram Moraes Redua - que tirou o corpo de Celso Daniel do local do crime - tenha ligação com a morte do prefeito.

A Polícia Civil concluiu que ele foi assassinado a mando de Fábio Hervelha Schunck, dono de uma agência funerária rival, por divergências nos negócios.