Título: Polícia pede silêncio aos cartunistas dinamarqueses
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Internacional, p. A14

Apenas o presidente do sindicato dos jornalistas fala em nome dos ameaçados de morte

O dinamarquês Mogens Blicher Bjerregard tem uma nova e grande responsabilidade sobre os ombros. Além de ser presidente do Sindicato dos Jornalistas da Dinamarca, sua mais nova função é falar em nome dos 12 desenhistas cujas charges de Maomé causaram a onda de protesto muçulmano em todo o mundo. Um dos cartunistas, Claus Seidel, disse ao Estado por telefone: "Desculpe-me, mas a polícia nos recomendou não falar com nenhum jornalista. Quem fala em nosso nome é Bjerregard."

A recomendação policial visa a evitar expor ainda mais os cartunistas, já que suas cabeças foram postas a prêmio por extremistas islâmicos do Paquistão. Como conseqüência, o telefone de Bjerregard não pára de tocar. "Estou tendo muito trabalho", disse ao Estado. "Nos últimos dias conversei com 40 jornais e canais de televisão sobre o assunto."

Mas a declaração não é um lamento. Bjerregard entende que essa intermediação é necessária para garantir que o esforço de segurança criado pelo governo e a polícia do país funcione bem. "O sindicato está fazendo tudo o que pode para ajudá-los nesse período difícil." E, apesar das ameaças de morte, o presidente afirmou que eles estão vivendo normalmente. "A proteção policial é feita de forma muito profissional, o que minimiza os riscos e o drama", comentou.

No entanto, o aparato de segurança não ameniza o temor e o sentimento de culpa dos desenhistas: "Eles estão com medo e também sentem o peso da responsabilidade em seus ombros, embora não seja culpa deles o mundo ter explodido como explodiu." Quem seria o responsável, então? "Essas 12 charges não podem ter sido a única causa de todas essas manifestações", opina. "Há várias intenções sob esses protestos. A questão religiosa é a mais explícita, mas também há motivações políticas." Na quarta-feira, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, acusou a Síria e o Irã de estimular os protestos.

Bjerregard organizava havia um ano um seminário para reunir cartunistas dinamarqueses e da África do Norte, Oriente Médio e região do Golfo. "Por causa dos protestos, tivemos de adiar o encontro, que seria no fim do mês", disse. "Lamento, pois é muito importante usar o diálogo para chegar à compreensão mútua. Espero conseguir remarcar o seminário o mais breve possível."