Título: Paquistão: 35 mortos em dia sagrado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Internacional, p. A14

Atentado suicida mata 31 em procissão xiita. Em outro ataque, a um ônibus, mais quatro pessoas foram mortas

Pelo menos 35 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas ontem no Paquistão em um atentado suicida durante uma procissão de muçulmanos xiitas e em um ataque contra um ônibus.

O atentado ocorreu na cidade de Hangu, na Província da Fronteira Noroeste, no dia da Ashura (dia do martírio), o mais sagrado do ano para os xiitas. O feriado marca a morte de Hussein, neto do profeta Maomé, na Batalha de Kerbala (Iraque), no século 7.º. Foi a morte de Hussein que desencadeou a rivalidade entre xiitas e sunitas, que até hoje tem desdobramentos.

Soldados tomaram o controle da área e as autoridades decretaram toque de recolher depois que os xiitas queimaram automóveis e lojas em Hangu, 200 quilômetros a sudoeste de Islamabad.

Mohamed Jamil, de 25 anos, disse que uma procissão de aproximadamente 300 xiitas havia saído da mesquita Imã Barga Quami e passava por um mercado quando uma bomba explodiu, desencadeando o caos. O ministro do Interior, Aftab Ahmed Khan Sherpao, disse que três explosões com menor intensidade estremeceram o mercado.

"Vi cadáveres e pessoas feridas", disse Jamil. "Havia pânico por toda parte. Algumas pessoas correram para socorrer os feridos e outras foram para casa pegar armas, facas e querosene e começaram a incendiar lojas, a destruir tudo."

"Nuvens de fumaça ainda podem ser vistas sobre a cidade", disse Saboor Khan, um morador. Ele acrescentou que, apesar do toque de recolher, disparos esporádicos podiam ser ouvidos na cidade.

Desconhecidos também abriram fogo contra um ônibus nas imediações de Hangu, matando quatro passageiros - entre eles uma mulher - e ferindo outros dois.

As autoridades enviaram mais soldados para controlar a situação na região. Há anos o Paquistão vem enfrentando a violência sectária, geralmente da maioria muçulmana sunita local contra os xiitas. Analistas dizem que os ataques dos últimos anos de grupos sunitas ligados à rede Al-Qaeda têm como objetivo desestabilizar o governo do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, e sua aliança com os EUA em sua guerra contra o terrorismo.

O prefeito de Hangu, Ghani ur-Rehman, disse não acreditar que a rivalidade sectária seja responsável pela violência de ontem. "Acho que não é um caso entre sunitas e xiitas. É terrorismo", disse, acrescentando que havia vários sunitas na procissão, incluindo ele mesmo. "Não acredito que os sunitas de Hangu atacassem os xiitas."

AFEGANISTÃO

Em outro incidente ligado à Ashura, centenas de muçulmanos xiitas e sunitas entraram em choque ontem em Herat, oeste do Afeganistão, deixando pelo menos 5 mortos e mais de 50 feridos. O confronto começou depois que aproximadamente 300 sunitas atiraram pedras contra uma mesquita xiita.