Título: PT cobra mudança na economia e irrita Lula
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Nacional, p. A5

Doze dias antes da reunião do Diretório Nacional do PT, um documento escrito pelo assessor de Assuntos Internacionais do Presidência, Marco Aurélio Garcia, já começou a provocar críticas da equipe econômica. Com o título provisório de "O primeiro ano do segundo mandato", o texto contém diretrizes do programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a campanha da reeleição e será apresentado na reunião do diretório, marcada para os dias 18 e 19, em São Paulo.

O documento destaca que Lula precisará reduzir drasticamente as taxas de juros e as metas de superávit primário para o País voltar a crescer, ainda neste ano. Condena, também, a proposta de déficit nominal zero. Se levado ao pé da letra, não contém nada de novo em relação ao que os petistas vêm falando em alto e bom som há tempos. Mas causou uma crise porque agora Lula exibe sinais de recuperação nas pesquisas de intenção de voto e a ordem no Palácio do Planalto é não lavar roupa suja em público.

"Ninguém pode se arvorar em dono da política econômica", afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "E é claro que o presidente Lula não vai ouvir apenas o PT nessa sua caminhada."

Marco Aurélio, que também é vice-presidente do PT, integra a comitiva de Lula na viagem a Londres, com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Na tentativa de diminuir o mal-estar, ontem mesmo Marco Aurélio enviou carta a Berzoini. Disse que a leitura do documento escrito por ele "não autoriza" a interpretação de que seu conteúdo esteja em oposição aos fundamentos da política econômica. "Pelo contrário (...) contém forte endosso dos grandes avanços conquistados na criação de condições estruturais que dêem sustentação, no próximo período, a um processo de crescimento acelerado com geração de emprego e renda", insistiu.

No dia 8 de janeiro, quando o Estado mostrou que expressiva fatia do PT queria ressuscitar idéias contidas em A Ruptura Necessária - o polêmico texto aprovado no último encontro nacional do PT, em 2001, na cidade pernambucana de Olinda -, Marco Aurélio confirmou que pretendia defender mudanças na economia nas diretrizes do programa de governo.

"Não é que vamos reeditar aquele texto, mas, evidentemente, daremos ênfase à necessidade de um crescimento econômico mais acelerado e de mais rapidez na distribuição de renda no País", disse ele, na ocasião.

Na prática, a próxima reunião do diretório será uma prévia do que ocorrerá no 13º Encontro Nacional do PT, marcado para os dias 28, 29 e 30 de abril, em São Paulo. Além dos petardos na direção da política econômica capitaneada por Palocci, o PT também dará dor de cabeça a Lula em relação à política de alianças.

Mesmo entre os moderados não há consenso sobre qual deve ser o tamanho das coligações e se elas devem ou não incluir partidos envolvidos no escândalo do mensalão, como o PTB e o PL. Toda essa discussão, porém, pode cair por terra se o Supremo Tribunal Federal (STF) mantiver a verticalização das alianças, obrigando os partidos a reproduzirem nos Estados a parceria firmada para a eleição presidencial.