Título: Produtividade cresce só 2,3%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

A produtividade da indústria brasileira voltou a níveis medíocres de crescimento. Depois dos 6,1% em 2004, a taxa variou só 2,3% em 2005, conforme levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Na avaliação do instituto, os juros altos afugentaram os investimentos. A estimativa é que o crescimento adequado da produtividade para o País no longo prazo é de 4%.

"Voltou a um nível medíocre, mas ao menos não afundou", diz o diretor-executivo do Iedi, Julio Sérgio Gomes de Almeida. A produtividade na indústria é a relação entre o crescimento da produção e das horas pagas aos empregados.

Almeida destaca que, mesmo com a desaceleração do crescimento, nos últimos dois anos a produtividade está avançando sem que haja redução de pessoal ocupado, o que não ocorria desde a década passada.

No ano passado, a produção da indústria avançou 3,1%, as horas pagas, 0,8%, e o pessoal ocupado, 1,1%. No ano anterior, a indústria havia crescido 8,3%, com expansão de 1,8% de pessoal e de 2,1% nas horas pagas. "Foram dois anos atípicos. Em 2004, estávamos saindo de uma crise, o crescimento arrebentou. Em 2005, o Banco Central foi especialmente duro nos juros", diz ele, citando que o investimento está na base do aumento da produtividade.

"Para que os empresários se decidam a comprometer recursos financeiros por períodos largos de tempo e com isso contribuir para um padrão de crescimento elevado e sustentável, seria necessária mais confiança na capacidade de expansão da economia, o que tem sido comprometido por políticas macroeconômicas que levam ao stop and go (da economia)", registra o estudo do Iedi, que será divulgado nos próximos dias.

Levando em conta apenas a indústria da transformação, o crescimento da produtividade em 2005 foi ainda menor, de 1,9%, resultado do aumento de 2,7% da produção e de 0,8% nas horas pagas. Já a indústria extrativa mineral avançou expressivos 11,8%. O setor extrativo teve em 2005 um aumento muito superior de produção (10,2%) e recuo de 1,4% nas horas pagas.

DIFERENÇAS

A produtividade evoluiu de modo diferente em cada ramo industrial. Alguns dos maiores índices de produtividade foram verificados em setores que tiveram queda nas horas pagas. Esse é o caso do setor de calçados e couro, cujo índice foi de 9,5%, decorrente, contudo, de duas notícias ruins: queda de 3,2% na produção e recuo de 12% no total de horas pagas. No setor de máquinas e aparelhos elétricos e eletrônicos ocorreu o inverso: cresceram a produção (11,5%) e o total de horas pagas (3,2%).

Parte do crescimento nas vendas está ligado ao boom dos celulares e ao crédito consignado para compra de bens de consumo. Além disso, esse setor não é intensivo em mão-de- obra, como o de calçados, mas em capital e maquinário. Assim, o aumento na produção não exige o correspondente em horas pagas.

Houve queda de produtividade em ramos como produtos de metal (5,3%), alimentos e bebidas (4,8%), metalurgia básica (4,1%), têxtil (3,2%), meios de transporte (2%) e máquinas e equipamentos exceto elétricos e eletrônicos (1,9%).