Título: Rodada Doha deve voltar à pauta na visita a Londres
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2006, Nacional, p. A7

Durante a visita, caso Jean Charles deve ser ignorado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcará no dia 6 em Londres para uma visita de Estado à Grã-Bretanha marcada por suas exigências pessoais e por suas ambições na esfera multilateral. Lula concordou em ser transportado em carruagem real até o Palácio de Buckingham. Mas rejeitou vestir-se a rigor para o banquete que a rainha Elizabeth lhe oferecerá.

Na agenda de trabalho, o presidente insistirá no seu projeto de realizar um encontro de líderes mundiais para destravar a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e na reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Entretanto, somente "tangenciará" os dilemas da comunidade brasileira na Inglaterra e deverá ignorar o polêmico assassinato de Jean Charles de Menezes pela Scotland Yard em julho do ano passado.

Antes de Lula, apenas seu antecessor Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente Ernesto Geisel haviam realizado visita de Estado à Grã-Bretanha.

Trata-se de uma modalidade cerimoniosa, que por si mesma prevê a visita aos chefes dos três Poderes, mas em Londres esse tipo de visita reveste-se de mais requinte e de elementos da tradição monárquica.

O presidente e a primeira-dama, Marisa Letícia, serão hospedados no Palácio de Buckingham, para onde serão transportados da embaixada do Brasil em uma carruagem. Mas, cuidadosamente, diplomatas brasileiros conseguiram do cerimonial britânico o aval para que o presidente e seus ministros vistam-se com terno e gravata no banquete do dia 7.

"O governo britânico deixa seus convidados à vontade", resumiu o embaixador Antonio Patriota, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty. Patriota acrescentou que nem os sul-africanos Nelson Mandela e Mbeki Thabo nem o presidente da China, Hu Jintao, tiveram de trajar-se a rigor em situações semelhantes no Palácio de Buckingham.

Durante os três dias que permanecerá em Londres, o presidente Lula não repetirá o feito de Fernando Henrique, que, em novembro de 2002, fez uma conferência na Universidade de Oxford. A universidade havia lhe concedido o título de doutor honoris causa em Direito Civil.

TRÂMITES

O contato mais próximo que Lula terá com a comunidade brasileira - atualmente, com cerca de 30 mil cidadãos - será na abertura de uma exposição sobre a Tropicália, no Centro Cultural Barbican.

"O caso Jean Charles segue seus trâmites internos na Justiça britânica", explicou Patriota. "Os problemas da comunidade brasileira só devem ser tratados tangencialmente na conversa com o primeiro-ministro, Tony Blair", disse.