Título: O prefeito, seu irmão, sua mulher e o cunhado
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2006, Nacional, p. A5

São Luís do Paraitinga é exemplo do que ocorre nas prefeituras

Na pequena São Luís do Paraitinga, cidade paulista de 10 mil habitantes famosa por seu carnaval de marchinhas, o prefeito Danilo José de Toledo (PSDB) tem na prefeitura três parentes em cargos de confiança. Sua mulher, Cristina Maria Rodrigues de Toledo, ocupa a pasta de Promoção e Desenvolvimento Social e recebe o maior salário entre os cargos comissionados, R$ 2.400. O mesmo valor que recebe Benedito Cândido de Toledo Filho, irmão e assessor de Planejamento do prefeito. O diretor municipal de Trânsito, Carlos Alberto Durand, é cunhado de Toledo e ganha um pouco menos, R$ 1.400 mensais. Juntos, os três consomem 13,5 % da folha de pagamento dos cargos de confiança da cidade (R$ 45 mil para 32 pessoas).

"Estou a título de colaboração. Não preciso disso", disse Durand, que atribuiu a nomeação à sua qualidade técnica. "Aceitei por insistência do prefeito, que não conseguiu um profissional para o salário que ofereciam", afirmou ele.

O argumento de Durand não serve apenas para São Luís do Paraitinga. Explicações semelhantes podem ser ouvidas em centenas de cidades do Brasil e tanto podem representar nepotismo, como não. No Rio de Janeiro, por exemplo, o prefeito César Maia (PFL) tem quatro parentes em cargos municipais e defende essas escolhas com toda a convicção. Sua irmã, Ana Maria Maia, é subsecretária especial de Eventos da prefeitura do Rio. A cunhada, Carmen Adela Pizarro, preside a Fundação Planetário. A sobrinha, Anita Ibarra, é presidente da RioZoo. E um sobrinho, Carlos André Bonel Júnior, é subsecretário de Assuntos Administrativos.

ROTINA

No início do ano passado, um levantamento nas 76 maiores cidades (com mais de 300 mil habitantes) detectou 26 nas quais o eleito tem pelo menos um parente para um cargo de confiança. É o que acontece ainda hoje, só para citar alguns casos, em Florianópolis (SC), Natal (RN), São Luís (MA), Anápolis (GO), Juiz de Fora e Guarulhos (SP). Em Campinas (SP), a mulher do prefeito Hélio Santos (PDT), Rosely Santos, é mais do que isso: chefia o gabinete e ocupa um espaço político importante na rotina da prefeitura.

Em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, o caso é mais sério: o prefeito Manoel de Jesus Ferreira (PTB) arrumou lugar para 12 parentes em cargos de comissão, com vencimentos entre R$ 1.270 e R$ 5.720. Reeleito em 2004, Ferreira inclui entre seus beneficiários a mulher, Célia Ferreira, a irmã, Maria Sônia Dias, o primo Antônio Cornélio e um sobrinho, Denilson Dias.